Automobilismo | Rosália Silva | 04/08/2004 22h28

Disputa noturna do Arrancadão de Tratores tem mais beleza

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Disputa noturna do Arrancadão de Tratores tem mais beleza

Heinz Schreiber Júnior, 39 anos, mais conhecido por Alemão, está em Campo Grande organizando a vinda dos tratores "envenenados" para disputa que acontece neste fim de semana, dias 7 e 8 de agosto, no Autódromo Internacional de Campo Grande. A "brincadeira" nasceu em Maripá, no interior do Paraná, há 14 anos. Agora a categoria se profissionalizou e quer conquistar o País. Os turbinados que estarão na competição chegam a andar a até160 km/hora. Inveja de outros veículos de arrancada os pilotos do trator não tem, já que essas máquinas muito utilizadas no campo estão próximas de fazer as marcas dos carros. Segundo Alemão, hoje um trator está a dois segundo do tempo que faz um campeão brasileiro de arrancada de carros. É ir ao autódromo conferir.

Esporte Ágil - Esta é a primeira etapa nacional do Arrancadão de Tratores. Como é que nasceu esta modalidade?
Alemão - Começou em 90, na avenida no centro da cidade.

Esporte Ágil - Em qual cidade?
Alemão - Maripá, no Paraná. A idéia é algo básico, porque antes de 90 tinha muitas arrancadas de moto. O jovem na época saia muito para fazer as arrancadas de moto. E em 1989, Maripá tinha uma festa chamada Fecon, uma festa voltada mais para a alimentação e também para quadros e tratores da antiguidade. E o que aconteceu: em 90 fizemos uma reunião e propomos uma alteração nas arrancadas. Como a disputa chamava muito público na época, então a idéia era trocar as motos por tratores e agregar a prova à festa de Maripá. E foi bem aceito pelo pessoal e com isso fizemos a primeira prova de arrancada de tratores da cidade, na avenida central, quando nossos tratores faziam ainda uma faixa de 50 km por hora.

Esporte Ágil - Eram tratores agrícolas, não eram ainda essas máquinas preparadas?
Alemão - Não, eram agrícolas. Como a festa tinha entrada franca e pela curiosidade do público, 1990 trouxe para Maripá um recorde de público. Fizemos arrancadas de tratores em 91, em 92. Mas em 1992 eu achei por bem parar as arrancadas no canteiro central, até porque não tínhamos critério de segurança. Os tratores eram tirados quinze dias antes das propriedades, determinados mecânicos afoitos e interessados mexiam naqueles tratores, os envenenavam. Porém não tinha "santo antônio", banco concha, extintor de incêndio, não tinha aparato de segurança. Eu achei por bem parar porque em 1992 os tratores já andavam na faixa de 70 km por hora no centro da cidade. Pedi meu afastamento da equipe, eu era o coordenador e o que, de certa forma, deu o ponta pé inicial. Eu me sentia muito responsável porque por mais que a mídia fosse lá e o evento virasse manchetes regionais, fiquei preocupado porque poderia dar uma manchete nacional por causa de algum sinistro. O pessoal aceitou o meu afastamento. E eles continuaram fazendo as arrancadas até 2000. Neste ano os tratores estavam atingindo 110 km por hora. Os organizadores acordaram, não tiveram acidentes em nenhuma das seis edições em dez anos. Mas decidiram que seria melhor repensar e re-analisar a prova. Já em 2002, o prefeito fez uma mini-pesquisa na cidade sobre a possibilidade de uma pista especialmente construída para arrancada de tratores. Com asfalto, mureta de proteção do público. Ele me consultou e eu disse que era uma das coisas mais inteligentes que o município poderia estar fazendo. Primeiro por que era uma estratégia de marketing bacana para a cidade, que é bom ressaltar só tem 3,5 mil habitantes. E melhor do que isso, se evitasse que uma criança fosse atropelada por um trator já teria valido o investimento. A população local aceitou a idéia, 84% foi favorável. E foi com essa aceitação que o prefeito começou a construção da Pista de Arrancadas de Maripá, que acabou sendo carinhosamente apelidado de "tratoródromo" e foi isso que fez que a mídia fosse para Maripá assimilar esse nome tratoródromo. No ano passado, saímos em inúmeros jornais, sites, também em duas redes nacionais: no programa da Olga Bongiovane e do Gilberto Barros. Depois conversei com o prefeito para dizer havia os dois lados da moeda. De um lado preparar a arena e de outro lado tinha que preparar o artista e buscar junto às federações que legalize a classe. Foi quando procuramos a Federação de Automobilismo do Paraná. Eu sou agricultor e abdiquei de uma boa parcela do meu tempo em ir buscar esse caminho e também buscar a tecnologia melhor para poder proteger o piloto. Com isso conseguimos a homologação e o apoio da Federação Paranaense de Automobilismo, através do presidente Rubens Gatti. Ele abraçou a causa para que o evento acontecesse de uma forma legal. Depois de muito trabalho nos bastidores, procura de patrocínio, envolvimento de muitos pilotos apaixonados usando de recursos próprios para fazer o evento. Fizemos então nos dias 13, 14 e 15 de novembro em Maripá o primeiro campeonato legalizado de Arrancadas de Tratores do Brasil. Agora o Rubens Gatti apresentou a gente para o presidente da Fams (Federação de Automobilismo de MS), o Nelson Pereira Júnior, há três meses e o presidente da Fams resolveu abraçar esta causa e trazer para mostrar para o público de Mato Grosso do Sul a categoria Tratorshow, que é essa modalidade modificada no ano passado. E que é uma categoria profissional. E no ano que vem, já tem patrocínios que só entraram por que a gente realmente profissionalizou o evento. Não só para Campo Grande, mas também para Dourados. Não vindo fazer nossa estréia fora do Paraná, mas fora de Maripá.

Esporte Ágil - E por que escolheram Campo Grande, é certo que teve o apoio da Federação daqui, mas é também por que a cidade tem um setor rural desenvolvido?
Alemão - Você falou uma coisa que é interessante. Estava comentando com uma pessoa que por mais que tenham pessoas aqui em Campo Grande, pecuaristas e não agricultores, mas é interessante que o pessoal daqui saiba que tem aos olhos do Paraná, do Sul, uma conotação de uma Capital de um Estado promissor na área agrícola. MS é um mega celeiro agrícola. É com essa expectativa e com dinâmica que Campo Grande tem fora do Estado, realmente se tornou um foco interessante para mostrar esse tipo de competição. E o mais importante disso é a forma que nós fomos recebidos pelo pessoal da Fams. E pelo belo autódromo que vocês tem. Eu particularmente estou maravilhado como autódromo. E o próprio pessoal que supervisiona e homologa o automobilismo em MS que recebeu muito bem essa categoria.

Esporte Ágil - Como é os tratores agrícolas, que são grande máquinas, chegaram a esse formato, que é o profissional?
Alemão - Todo mundo enxerga um trator de competição como grande, robusto, desengonçado, não tão rápido. E na verdade, o objetivo da categoria é fazer o menor tempo possível em 200 metros e não puxar peso como a categoria dos holandeses com tratores enormes, a nossa categoria é ao contrário. São largadas de arrancada em duplas, que na verdade você faz 201 metros, ou seja, um oitavo de milha e claro que os tratores vão sair em alta velocidade, buscando o menor tempo possível para contabilizar a soma dos menores tempos, para que possam chegar nas quartas-de-final e chegar no domingo à tarde estar nas finais. Para isso, grande parte das equipes acaba tirando peso do trator. A nossa categoria permite que o peso mínimo seja de dois mil quilos. Eles acabaram diminuindo para tentar chegar próximo ao mínimo permitido, fazendo isso o trator foi diminuindo, foi ficando um tratorzinho tunado, esportivo. Tuning quer dizer um aperfeiçoamento de qualquer carro, qualquer trator, e até um embelezamento. A gente colocou minissaia nos tratores, uma iluminação por baixo, holofotes de neon. Então o trator não é só pequeno, mas é bonito. Por causa disso a gente apregoa muito o evento noturno. A nossa categoria tem um diferencial das outras, porque trabalha dois dias. No sábado à noite com a mesma importância do domingo. É certo que no domingo tem a final, mas as baterias e classificatórias do sábado têm o mesmo peso das baterias do domingo. A diferença é que a beleza das arrancadas noturnas se sobressai em muito a beleza diurna do domingo. Então, se fosse para eu fazer um convite para o público ir ver uma coisa diferente, eu convidaria para ir ver sábado à noite. E impressiona pela velocidade. Nós vamos receber no fim de semana em Campo Grande, que estão vindo agora na quinta e na sexta-feira, que atingem 160 quilômetros por hora. E eles devem estar batendo recorde aqui na faixa que para trator é um bom tempo, em torno de 8.7 a 9.3 em duzentos metros. Enquanto um campeão brasileiro de arrancadas de carros atinge 6.7. Nós estamos a dois segundos do campeão brasileiro da força livre de arrancadas. É uma emoção muito grande, é uma máquina curiosa. E o pessoal de Campo Grande tem que ir ver in loco e conferir a velocidade e a beleza desses equipamentos.

Esporte Ágil - Estarão competindo somente pilotos do Paraná, ou vem também pilotos de outros estados?
Alemão - Como o projeto é novo, um projeto piloto, virão 14 pilotos do Paraná. Para Dourados, vamos ter dois pilotos de São Paulo, que aderiram. Nós fomos a muitas feiras com esses tratores, em Não Me Toque, Cascavel, Ribeirão Preto, Esteio. E quando você vai para essas mega-exposições agrícolas, acaba aparecendo um ou outro que gosta e vai se interessando. Nós acreditamos que a categoria que é muito jovem, tem dez meses de criação, vai se mostrar pela segunda vez. A primeira foi em Maripá no ano passado e agora aqui, por isso muitas pessoas vão querer ver a dinâmica, para ir aos poucos se inscrevendo para chegarmos ao limite de 23 tratores. Aí só entra quando sair alguém da categoria.

Esporte Ágil - E qual é o investimento para um piloto começar a correr?
Alemão - Os tratores de característica e tecnologia mais humilde estão em torno de uns R$ 35 mil. Buscando uma criatividade muito grande, equipamento usado, inclusive em ferro velho. Esses tratores que todos vão ver são reformados. A criatividade do nosso povo transformou o que era para ser obsoleto, que estava sem uso, transformou em uma arte. É até uma produção ecológica, porque ia para o lixo e acabamos transformando. As mais caras, mesmo que elas busquem criatividade, equipamentos usados, pode chegar em torno de R$ 60 mil.

Esporte Ágil - Você compete também?
Alemão - Não, porque não quero me envolver. Por uma razão muito simples: se o promotor do evento se envolve. Ele tem dois tratores e ganha, tem problemas. Eu decidi desde o início, fiz uma promessa para todas as equipes envolvidas de que não vou colocar tratores para competição. Vou colocar sim tratores para show. Eu tenho dois tratores meus que fazem zerinho, show a parte dentro do evento Tratorshow, que na verdade acaba não pontuando. Para não dar problema de dúvida quanto aos pilotos, acabo jogando toda a responsabilidade da competição para as federações que acabam supervisionando o evento.

Esporte Ágil - E qual é o objetivo que a prova de tratores quer atingir, por ser uma modalidade nova?
Alemão - O objetivo do Tratorshow era fazer arrancadas de tratores, como ainda é o foco. Mas ao desenvolvemos o trator, criamos a possibilidade de sermos o único do mundo a fazer corrida de tratores. Num futuro próximo poderemos colocar tratores alinhados em um grid de largada e fazer curvas com tratores a 80, 90 por hora. Porque nós rebaixamos os nossos tratores, colocamos suspensão dianteira, para dar uma segurança maior nas arrancadas. Só que com isso, indiretamente, nós conseguimos desenvolver a possibilidade de fazer uma corrida de tratores. Se isso acontecer, posso praticamente te garantir que o Brasil vai ter um produto inédito, que vai ser a Fórmula Trator, a corrida dos tratores. Mas por enquanto não é o nosso foco, queremos sim é desenvolver o equipamento e dar segurança. E quando isso funcionar a contento, vamos tentar desenvolver uma nova possibilidade, com um foco maior, mais agressivo.

Esporte Ágil - E qual a expectativa de público para este fim de semana?
Alemão - Eu gosto de deixar bem claro para a imprensa, que a expectativa não de como já aconteceu em Campo Grande de lotar e estressar quem vai ao autódromo. O nosso objetivo é de que o público vá ao autódromo, que saia de lá contente, que vá tranqüilo e que leve a sua família. O grande espectador nosso, por incrível que pareça, são as crianças. De dez crianças que passam na Cerv-já, dentro dos carros, nove olham para o tratorzinho que está exposto aqui. Queremos que a família vá lá e curta o evento. Vou colocar, no fim do evento na noite de sábado, o Carlos e Alan para tocar uma moda de viola para que o pessoal possa sair do autódromo tranqüilamente. E no domingo a mesma forma, que o pessoal curta o Dia dos Pais e depois lá por uma e meia, duas horas, quando a competição já vai estar em andamento, o pessoal vá lá assistir as arrancadas, das 14 horas às 16h30 e possam voltar para casa sem tumulto. Eu quero que o público vá, mas que vá em paz, numa boa e sem muito movimento.

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