Bate-Bola | Jeozadaque Garcia/Da redação | 12/04/2010 14h12

Bate-bola: Adílson Higa

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Adílson Higa

Aos 38 anos, o campo-grandense Adílson Higa pode ser considerado um exemplo a ser seguido. Em setembro do ano passado, quando se preparava para disputar o Campeonato Pan-Americano de Jiu-Jitsu em Salvador (BA), ele sofreu um acidente automobilístico que quase colocou um ponto final em sua carreira. Após passar mais de duas semanas em coma, ele teve que amputar seu braço esquerdo.

Nada disso o impediu de vestir novamente o quimono e voltar a dar aulas. Para ele, a luta que deu forças para continuar a viver. Agora, ele pensa na frente: seu plano é viabilizar um projeto com crianças carentes na Capital.

Esporte Ágil - Primeiro conte como começou seu interesse pelas artes marciais.
Adilson Higa - Eu comecei no judô com cinco anos de idade, até os 22, quando era faixa-marrom. Nessa época, eu fui para o Japão e já havia dado uns treinos de jiu-jitsu, só que a prioridade ainda era pegar a faixa-preta de judô no Japão. Depois, comecei me aventurar nas lutas de MMA amador lá no Japão, e isso me exigiu mais chão. Foi aí que eu voltei a treinar com força o jiu-jitsu. Tenho um cartel de 36 lutas de vale-tudo, com 33 vitórias e uma derrota. Vim do Japão para o Brasil, com o intuito de treinar e pegar a faixa-preta de jiu-jitsu. Hoje, nossa equipe tem em torno de 130 atletas.

EA - Como aconteceu esse acidente com você?
AH - Eu estava me preparando para ir para o Pan-Americano no ano passado. Estava em um ritmo forte de treinamento. Voltando do trabalho, um caminhão atravessou a preferencial e me atropelou, onde eu vim a perder o braço.

EA - O que mudou depois disso na sua vida?
AH - Mudou tudo. A maneira de viver, pensar e agir. Uma das coisas que mudou foi a vontade de testar novamente os limites nessa condição.

EA - De onde você tirou forças para seguir lutando?
AH - Na verdade foi a luta que me deu força para continuar a viver. Eu fiquei 26 dias em coma e outros 30 no hospital. A única coisa que passava pela minha cabeça era levar a vida o mais normal possível. Quando saí do hospital, um mês depois já estava colocando o quimono, para ver como era a reação. A coisa tem sido gradativa. Foi graças ao esporte que minha vida tomou um curso totalmente normal.

EA - Quais dificuldades você sentiu no começo para se readaptar ao jiu-jitsu?
AH - No começo era mais a condição física, pois a cabeça estava 100% focada, e isso é uma coisa que falo sempre para os alunos. Se sua cabeça funcionar, o resto funciona.

EA - Você sofreu algum tipo de preconceito no começo?
AH
- Por incrível que pareça, não. A galera do jiu-jitsu deu a maior força. Em novembro teve o Estadual e eu tinha acabado de sair do hospital. Não fui lá para eles me verem sem braço, mas para agradecer quem se uniu e me ajudou muito quando eu estava no hospital. Não tive preconceito nenhum.

EA - O que você teve que adaptar para continuar dando aulas?
AH - Eu sempre brinco muito. As técnicas mudaram de acordo com a minha dificuldade. Eu tento deixar o mais fácil pra mim, pois se fica pra mim, fica mais ainda para os alunos. A grande dificuldade é a minha. Quando eu vou dar aula, eles pegam bem fácil.

EA - Você pensa em organizar campeonatos para atletas com essa dificuldade?
AH - Historicamente falando, acho que sou o primeiro nas condições que estou. Então, acho que não há necessidade, pois o próprio jiu-jitsu te fazer superar essa condição. É uma forma de se igualar com as pessoas comuns.

EA - O que você projeta daqui pra frente na sua vida?
AH - Eu tenho vários projetos pendentes. Um, com 38 anos, voltar a competir. Tenho um projeto com crianças carentes que sai do papel agora em abril. É um projeto que vamos divulgar em âmbito regional, depois no âmbito estadual. É um trabalho com crianças carentes e suas famílias, dando oportunidade de treinar o jiu-jitsu com professores gabaritados, e fazer um acompanhamento sócio-educativo das famílias, tentando ajudar da melhor forma possível na parte material, com doações de roupas, cestas básicas, etc.

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