Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da Redação | 20/06/2011 22h54

Bate-Bola: Aldo Pereira Aguilera

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Aldo Aguilera

Aldo Pereira Aguilera assumiu a Federação de Ciclismo no dia primeiro de junho de 2009 já com a espinhosa missão de encaixar o calendário anual nos seis meses que restavam para acabar o ano.

Com dificuldades logo de cara, Aldo só pôde mostrar sua competência a partir de 2010, quando,com mais calma, conseguiu reerguer o ciclismo no Estado, realizando grande numero de provas e aumentando o numero de atletas filiados. O presidente da federação conversou com o Esporte Ágil.

Esporte Ágil - Conte como foi parar na presidência da Federação de Ciclismo do Mato Grosso do Sul.

Aldo Aguilera - Assumi a Federação por amor ao esporte. Eu vivo do ciclismo. Era atleta desde 1999 e em 2003 atingi meu ápice como ciclista, fui vice-campeão estadual.  Com o passar dos anos, junto de três atletas, fundei um clube, o ACC, Associação Campo-grandense de Ciclismo. Trabalhei como tesoureiro na última gestão da Federação e em 2009 surgiu o convite. Confesso que quando assumi fiquei em dúvida se ia conseguir, uma coisa é ser presidente de um clube e outra é de uma federação. Mas juntei pessoas de confiança, que amam o esporte, e, com muito trabalho conseguimos crescer bastante.

EA - Quais foram os principais feitos como presidente até agora?

AA - Todo ano realizamos três competições da Confederação Brasileira de Ciclismo por ano, o nosso calendário está cheio de provas. Temos o estadual, com três etapas na capital e duas no interior, aumentou o número de provas e atletas filiados. 2011 está sendo muito produtivo, a copa Kombate completou dez anos de existência, fizemos o Pedala Sesi, surgiu o campeonato de alto giro. E ainda criamos a categoria não federado, presente em todas as provas.

EA- Como funciona a categoria não federado?

AA- A categoria não federado dá a oportunidade de um atleta correr sem precisar estar filiado a um clube.  O atleta pode competir sem precisar ter a roupa adequada, exigimos apenas o capacete. Ele compete, conhece a Federação, as provas, é o meio mais fácil dele se integrar no ciclismo. Queremos atrair os atletas, para que futuramente eles se filiem a um clube e à federação. Mas procuramos atletas que apóiem o clube, que ajudem o clube, que se orgulhem do clube. Assim como um corintiano compra e usa a camisa do Corinthians por orgulho, sem pedir nada em troca. Esperamos que o atleta goste do clube, os clubes não tem muito apoio, precisam correr atrás, fazer rifa, é importante o esforço de todos.

EA- O governo dá estrutura e apoio para o ciclismo daqui crescer e competir de igual para igual com os outros estados do país?

AA - É complicado porque o governador não tem olhos para o esporte. Quando o governo do Estado era do PT, a verba, o incentivo ao esporte era maior. Hoje, o atual governo não tem mente aberta para o esporte, as federações sofrem com isso. Aqui é uma coisa, lá fora é outra. Em outros estados o atleta treina o dia inteiro e descansa, tem salário, vive do esporte, vive do ciclismo. Aqui os ciclistas trabalham, estudam, as federações não tem e não recebem nada, trabalhamos sem incentivo. Todo ano vou com atletas competir o Brasileiro, ano passado o Cleomedis Vaneli conquistou a sétima posição na prova de contra-relógio, resultado que a gente comemora até hoje. Este ano quatro atletas competirão e eu viajarei com eles.

EA- O ciclismo sul-mato-grossense é bem patrocinado? Existe apoio de empresas privadas?

AA - Eu vejo que os empresários daqui não dão valor ao esporte, não querem investir no ciclismo. Em Minas Gerais, por exemplo, uma indústria patrocina o ciclismo. Mas eu não fico esperando ajuda do governo como muitos fazem. Eu fui atrás de apoio das empresas. Não sou de reclamar, de ir à imprensa criticar. Eu arregaço as mangas, vou atrás. Na medida do possível a gente consegue um apoio ou outro, como consegui com o Pedala Sesi. Mas é muito pouco.

Nosso Estado, eu não sei o que acontece, veja só, o futebol que é o esporte mais amado do país, até o futebol daqui é horrível. Brasília, Goiânia e até Cuiabá tem times de maior expressão que os daqui. E a gente já viu o Operário e o Comercial no Brasileirão na década de 80, ninguém ganhava deles no Morenão. O estádio estava sempre lotado. A falta de investimento desmotiva.

EA - O que você acha da imprensa esportiva sul-mato-grossense?

AA - O futebol, por mais que seja fraco, sempre está na frente, sempre é prioridade da imprensa no Mato Grosso do Sul. Aí, quando acaba o estadual e não tem nada para noticiar, vão lá fazer matéria de ciclismo. Pior mesmo é a televisão, que quando querem fazer uma matéria marcam um horário e tem vez que não estamos disponíveis no horário que eles querem.  Os atletas trabalham, estudam, às vezes não dá tempo. E aí, se não pode no horário deles, eles cancelam e não fazem mais a matéria.

A gente sabe da importância de aparecer, de que nosso trabalho seja divulgado. Temos um site da federação que sempre divulga as provas e resultados. Os jornais e sites vêm noticiando mais sobre ciclismo, mas ainda é uma cobertura muito pequena.

EA - Quais são os pontos positivos e negativos da Federação hoje?

AA - O grande problema da Federação antes da minha gestão era a falta de credibilidade. É preciso manter as boas relações, a federação de ciclismo era muito mal vista. Consegui acabar com isso, hoje recebemos recurso da Fundesporte, a Funesp apóia a gente. Conquistamos credibilidade com todos, o ciclismo cresceu, temos banheiro químico nas provas, água para os atletas e até para o público. É possível ver o resultado disso pelos atletas. Eles estão investindo, acreditando no nosso trabalho. Ouvi até atleta dizer que não vai mais trocar de carro para comprar uma bicicleta melhor.

O grande problema da Federação hoje é a mão-de-obra especializada. Falta árbitro. As provas melhoraram e a arbitragem não está acompanhando. Quero levar os árbitros daqui para fazer cursos lá fora, para eles evoluírem.

EA - Para encerrar, resuma o que é preciso fazer para que o ciclismo no Estado evolua.

AA - Não só para o ciclismo, mas para o esporte no MS, precisamos de investimento, incentivo, tanto do governo quanto das empresas privadas. É preciso formar parcerias. Outra coisa é não ficar parado, não reclamar e sim fazer, ir atrás. Esse é meu trunfo, quero deixar a federação mais estruturada possível para que o próximo presidente tenha tranqüilidade para trabalhar. Fico contente que com o pouco que estamos recebendo tem dado resultado, mesmo nessas condições não temos deixado a desejar.

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