Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da Redação | 24/05/2011 00h21

Bate-Bola: André Volnei da Silva

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André é o responsável pelo pouco que existe de patinação artística no nosso Estado. André é o responsável pelo pouco que existe de patinação artística no nosso Estado. (Foto: Foto: Arquivo)

André Volnei

Tri campeão gaúcho, André Volnei da Silva veio para Campo Grande após ter ficado um tempo sem patinar. Ao chegar na Capital e ver que não tinha uma escola de patinação artística no Estado começou a dar aula e criou projeto.

Buscando o crescimento da patinação artística no Estado, ele queria criar uma Federação, mas por impossibilidades criou a Associação Legalizada de Patinadores Artísticos de Campo Grande. Esta semana André leva sua equipe ao Guarujá-SP para competir. O professor concedeu entrevista ao Esporte Ágil.

Esporte Ágil - Como começou o seu interesse pela patinação artística? 

André Volnei - Eu comecei a patinar com 14 anos de idade, morava no interior do Rio Grande do Sul e patinar era tradição na cidade. Eram 70 mil habitantes e 250 patinadores nas escolas. Todos meus amigos patinavam, aí comecei a entrar no esporte.

EA- Como é o seu trabalho como professor? 

AV- Fui convidado a dar aula quando comecei a treinar aqui, há três anos. Criamos um grupo de patinação. Desde então fizemos apenas duas apresentações, a última no final do ano passado. Fizemos uma espécie de parceria iniciada ano passado com o Dom Bosco. É uma troca, pagamos o aluguel da quadra e carregamos o nome do Dom Bosco que às vezes abre algumas portas, mas não recebemos nada deles. Treinamos das 7 às 8 da noite, único horário disponível no Dom Bosco e é complicado, a aula acaba as 8 e até desaquecer, tirar o patins, chegar em casa, tomar banho e comer já é hora da criança dormir, pois ela tem aula no dia seguinte. Então isso dificulta. Começamos o ano com 20 alunos e hoje temos apenas 13, muitas alunas passaram para o ensino médio e entraram naquela preparação para vestibular, não tendo tempo para patinar.

EA- Não existe Federação de Patinação Artística no Mato Grosso do Sul. Por quê? Você pretende criar uma no futuro?

AV- Queríamos criar a federação, mas são necessários três clubes filiados à federação, tem que ser feita assembléia onde compareçam três clubes distintos. Como somos a única escola de patinação, é complicado entrar em contato com outro clube que não tem a patinação para entrar com o nome junto. Com isso, criei e regularizei Associação Legalizada de Patinadores Artísticos de Campo Grande. Se fôssemos uma federação talvez fosse mais fácil conseguir apoio do setor público e de empresas.

EA- Isso dificulta o crescimento e desenvolvimento da modalidade no Estado?

AV- É possível filiar uma escola que não pertença a uma federação à Confederação Brasileira de Patinação Artística. Mas o que gera transtorno é que como em todo esporte, existem degraus, fases, primeiro o atleta compete o estadual para chegar ao nacional, e depois ao sul americano e ao mundial. Não teríamos a primeira etapa, o estadual, pois precisa de federação. Então a equipe chegaria crua numa competição nacional. Demora um tempo pra você criar um atleta, a parte técnica, ele não fica pronto rapidamente, é um processo longo.

EA- O que você acha da imprensa esportiva sul-mato-grossense?

AV - Infelizmente somos da cultura de dar atenção só ao futebol, que é a paixão nacional. É normal, todo país tem um esporte que é o carro-chefe, porém a imprensa brasileira e a daqui falam muito pouco de outros esportes. Temos intenção de conseguir divulgar a patinação artística. A divulgação do estado é zero. Avisamos de curso internacional que aconteceu com professor que era da dança dos famosos do Faustão que teve aqui e ninguém teve interesse de publicar alguma coisa.

EA- O apoio do governo é suficiente para sustentar a patinação artística? 

AV - Não. Não existe apoio nenhum. Encaminhamos projeto este ano para a Fundesporte, para trazer um campeonato para cá, mandei o projeto em fevereiro e até hoje não recebi nem resposta. Para você ter uma idéia, vamos esta semana competir em Guarujá na liga paulista, um campeonato regional. Fizemos como se fossemos uma escola de São Paulo, mas estamos inscritos como Campo Grande. Vou levar 11 atletas, competindo em 25 modalidades. Tenho que bancar tudo, não consegui apoio nenhum. Nem do governo e nem de patrocinadores. Internacionalmente o pessoal dá muito valor, muito patrocínio e premiação alta, patinação é um esporte de alto rendimento. Aqui é medalhinha, lá fora a premiação em certos campeonatos é de 60 mil dólares.

EA- Existe preconceito dentro dos esportistas com a patinação artística. Você já sofreu algum tipo de rejeição ou preconceito?

AV- Diretamente não sofri preconceito, mas existe este olhar, e acho que quando a gente vier com resultados talvez este olhar mude. É muito mais difícil disputar um esporte individual. Esporte coletivo você se apóia no colega para ficar menos nervoso. Sinto que o pessoal vê com olhos de que patinação artística não é esporte, que é só diversão, que quem patina só faz meia dúzia de coisas. Fazemos meia dúzia de coisas super difíceis de fazer.

EA- Como se sentem seus atletas e o que eles esperam do esporte que praticam e quais são suas metas?

AV- Pelo menos metade dos meus alunos tem mais de 30 anos de idade e isso é raro, tenho alunas de 53 anos, 47, começando do zero, nunca colocaram patins no pé. Os meus alunos querem ser reconhecidos na Capital, esperam essa valorização. Como já disse antes, esta semana vamos disputar em Guarujá a Liga Regional Paulista. Saímos na quinta-feira. Na sexta tem a abertura à noite, com desfile de todas as delegações. No sábado de manhã tem congresso técnico e ai as competições vão até de noite, assim como no domingo. Estou levando 11 atletas concorrendo em 24 categorias. Todos têm chance de trazer medalhas. Todo mundo que estou levando está preparado para fazer o que vai executar. Não vai ter ninguém fazendo mais que eles, talvez melhor, mas não mais. Eles estão preparados para os elementos máximos de cada categoria.

EA- Quais são os seus objetivos e expectativas do futuro da patinação artística no Mato Grosso do Sul?

AV- Nossa intenção pro ano que vem é arranjar parceiro para nós carregarmos o nome e que tenha local para treinarmos. Não precisa ser necessariamente uma quadra, precisa ser um espaço. E aí fazer um projeto de continuação, com turmas de manhã, tarde e noite, incentivando a patinação.

Estudo recente mostra que a patinação está entre os esportes mais completos. A patinação trabalha todos os grupos musculares. Abrange respiração, cardiovascular, musculatura, mexe desde o dedinho do pé até a orelha. O pessoal fica com medo dos roxos, dos tombos, mas é um esporte que chama a atenção de quem passa e vê. Para finalizar, seria ideal a criação da federação para elevar o esporte e fazê-lo crescer dentro do Estado.

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