Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Esporte Ágil | 07/07/2009 03h00

Bate-bola: Arlindo Florentino

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Arlindo Florentino

Como a grande maioria dos profissionais da "velha-guarda" do jornalismo esportivo sul-mato-grossense, o aquidauanense Arlindo Florentino começou sua carreira de jornalista no rádio. Contudo, a experiência diante de um microfone veio de bem antes: do alto-falante de seu colégio, narrando jogos de futebol de salão, "para desespero de seus colegas", segundo ele próprio.

Arlindo acumula passagens pela Rádio Educação Rural, Rádio Cultura, Rádio Difusora, TV Campo Grande, Diário da Serra e até mesmo escrevendo para a conceituada revista Placar. Atualmente, o jornalista de nascido em 1956 é o editor do caderno esportivo do jornal Correio do Estado.

Esporte Ágil - Como começou seu interesse pelo jornalismo?
Arlindo Florentino -
Na realidade eu comecei no rádio. Iniciei na Rádio Educação Rural em 1977 e partir daí foi praticamente uma coisa natural. O rádio naquela época era o maior meio de comunicação do esporte de certa forma. Fiquei quatro anos no rádio e passei para o jornal em 81. A partir daí passei a acompanhar mais de perto o futebol de Campo Grande e de lá até hoje estou acompanhando.

Esporte Ágil - O interesse pelo esporte vem de criança?
Arlindo Florentino -
Sim, aquela coisa de criança. Você começa jogando bola, fazendo as peladas, e quando estava no colégio já tinha esse interesse. Nos campeonatos internos do colégio, de uma forma até automática, eu comecei a fazer boletins desses torneios. A partir daí já deu para perceber que eu tinha certo interesse. Também tinha jogos de futebol de salão na época, hoje futsal, que para desespero de muita gente eu pegava o auto-falante do colégio e começava a narrar os jogos. A gente vai aprimorando, estudando. Comecei a trabalhar numa rádio aqui da Capital e depois foi uma coisa natural.

Esporte Ágil - O rádio tem uma grande influência nos profissionais de jornalismo, principalmente nos da "velha-guarda". Você acha que diminuiu a importância do rádio para a formação do profissional?
Arlindo Florentino -
Eu sempre falo é a principal escola do jornalismo, seja em qualquer área. O rádio da a condição do imediatismo, do raciocínio rápido, e o rádio é na minha opinião a melhor escola. Infelizmente, hoje em Campo Grande, o rádio não é tão valorizado no aspecto profissional. Hoje o rádio é mais aquele espaço comercializável. Então se você tem condições, você compra o seu espaço e você faz o programa que você quer na maioria das rádios. Antigamente não. Antes você era contratado e no rádio tinha bons professores. Isso que fez a maioria dos jornalistas, a maioria das pessoas que estão na ativa ainda hoje. Passaram pelo rádio e possuem uma certa condição, bagagem que o rádio trouxe e que depois foram se aperfeiçoando.

Esporte Ágil - Nessa época não havia cursos de jornalismo. O que você acha da discussão sobre a obrigatoriedade do diploma?
Arlindo Florentino -
Eu acho que é bom o diploma. Digo que não é essencial, mas faz parte, é uma profissão. Não deveria ter acontecido essa decisão. Acredito que vai contra o andamento normal da situação. Tanta gente se esforçou, tanta gente sonhou em fazer uma faculdade de jornalismo. E a universidade dá a condição, forma a pessoa no aspecto teórico. É evidente que o acadêmico quando deixa a universidade ainda não sabe tudo, porque tem que ter a vivência, a experiência no dia a dia. Mas dá uma boa base, uma boa formação. Eu particularmente sou a favor ao diploma e acredito até que deveria se encontrar alguns meios para que o jornalismo continuasse sendo um curso normal e se formasse profissionais, porque os bons profissionais também saem da faculdade.

Esporte Ágil - Nossos esportistas ainda usam mal a assessoria de imprensa?
Arlindo Florentino -
Totalmente. Aliás, eu acho que é difícil um dirigente ou uma modalidade que tenha uma assessoria de imprensa. É um número muito pequeno, e quem tem essa assessoria é bem divulgado. Existe uma certa dificuldade para se cobrir o dia a dia, e a assessoria de imprensa facilita o trabalho do jornalismo esportivo. De certa forma a gente tem essa carência. Então quando não é o próprio dirigente que faz isso é algum parente, um conhecido, e que na realidade acaba não sendo um trabalho profissional. Não tem aquele conhecimento técnico. Uma assessoria de imprensa encaminha para o órgão de imprensa aquilo que realmente interessa, mas quando é o dirigente ou alguma pessoa que não é habilitada para isso, manda mais do coração, mais daquilo que ela acha que seria notícia, e que muitas vezes não é.

Esporte Ágil - Nosso esporte aparece pouco nos veículos de comunicação. Esse erro é nosso, da imprensa, ou dos dirigentes, que não estão sabendo divulgar?
Arlindo Florentino -
Eu acredito que é mais culpa dos dirigentes. Vamos colocar só o aspecto futebol. Hoje a gente tem jogo de futebol aqui no Estado que termina às cinco e meia da tarde, terminando duas horas depois. Nesse horário os órgãos de imprensa, os jornais e as rádios, já estão encerrando as suas atividades. Então é evidente que não vão esperar especificamente um jogo do Mato Grosso do Sul para noticiar. Também parte do interesse dos dirigentes. Então acredito que antes quando os jogos aconteciam as três horas da tarde em Campo Grande tinha gol no Fantástico, a Bandeirantes passava os gols do futebol local, as rádios davam nos boletins de encerramento de jornada... hoje a gente não vê isso. Por quê? Justamente por isso. Os jogos daqui terminam muito tarde e não dá tempo do pessoal esperar para fazer essa divulgação.

Esporte Ágil - A Copa não veio para cá. Qual você acha que foi erro, se houve algum, do planejamento de Mato Grosso do Sul?
Arlindo Florentino -
Especificamente a gente demorou muito para entrar na briga. Vou colocar a disputa direta Campo Grande x Cuiabá para comparar. Quando o Brasil foi confirmado como sede da Copa do Mundo, os dirigentes de Mato Grosso começaram a fazer o trabalho de bastidores. Blairo Maggi já tinha ido muitas vezes para a Europa, vender o peixe dele. Enquanto aqui, na Capital, as nossas autoridades só falavam em crise, dificuldade financeira, que é difícil, que não tínhamos condições... Campo Grande e Mato Grosso do Sul só foram acordar um mês antes da chegada da Comissão da Fifa que veio para cá fazer a inspeção. Aí foram feitos outdoors, adesivos, camisetas, bonés... Uma campanha bem feita, mas com muito pouco tempo para divulgação no aspecto geral. Acredito que nossa principal falha foi essa: entramos na briga tarde demais.

Esporte Ágil - A Copa não veio, que muitos apontavam como solução para o futebol sul-mato-grossense. Ainda tem solução?
Arlindo Florentino -
Eu acho que Copa seria importante para a cidade, para o Estado, no aspecto de desenvolvimento, das obras. Agora, nosso futebol não se reergueria depois da Copa do Mundo. Acredito que se não houvesse um grande trabalho, o Morenão depois de reformado ia virar um shopping ou ia servir para outras atividades. Com a estrutura que a gente tem no nosso futebol não seria a Copa que o salvaria. Do jeito que está é difícil se levantar.

Esporte Ágil - Quem você acha que pode levar o Estadual desse ano?
Arlindo Florentino -
O interior mais uma vez está levando vantagem sobre a Capital. Então tem alguma coisa errado com os dirigentes da Capital. É preciso os dirigentes reverem os conceitos em termos de administração e ver que tem alguma coisa certa acontecendo no interior do Estado. Acredito que é uma palavra só: organização. Hoje as quatro equipes que estão nas semifinais do Estadual são praticamente do mesmo nível. Acredito que qualquer um que for campeão dos quatro não será surpresa, mas acho que o Naviraiense, hoje, tem um pouco de vantagem.

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