Bate-Bola | Pedro Nogueira/Da Redação | 15/05/2012 10h02

Bate-Bola: Emídio Rodrigues

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Emídio foi convocado pela Seleção Brasileira para os últimos oito mundiais, mas, sem condições financeiras, só pôde participar de um. Emídio foi convocado pela Seleção Brasileira para os últimos oito mundiais, mas, sem condições financeiras, só pôde participar de um. (Foto: Pedro Nogueira)

Emídio Rodrigues

Emídio Rodrigues Santos Júnior, 39, é bracista há dez anos e é um dos que carrega o nome do Estado por meio do esporte. Além disso, Emídio fez parte da fundação da Federação de Luta de Braço de Mato Grosso do Sul e foi vital para a evolução da modalidade no Mato Grosso do Sul.

Emídio contou ao Esporte Ágil sua participação na história da luta de braço sul-mato-grossense.

Esporte Ágil - Como e quando você começou na luta de braço?

Emídio Rodrigues - A luta de braço é um esporte de força e eu sempre, desde moleque, gostei de medir força. Comecei com 25, 26 anos, quando ainda era chamado de braço de ferro, mas fui praticar sério mesmo com 29. 

EA - Quais eram as condições da luta de braço no Estado na época?

ER - Quase não tinha competição. A luta de braço era alinhada com a Federação de Fisiculturismo, que é uma das mais antigas do Estado. Em 2000 surgiu a idéia de criar uma federação e eu e meu irmão fundamos a Federação de Luta de Braço de Mato Grosso do Sul, com CNPJ e tudo. Eu era vice-presidente.

EA - Quando se tornou presidente da Federação ? Que balanço faz da sua gestão?

ER - Assumi a Federação em 2008. Ninguém queria pegar a presidência e eu vi que ia sobrar para mim, não queria, mas fui por ter paixão pela luta de braço. 

A principal conquista que tive como presidente foi poder descentralizar a luta de braço no MS. Antes os torneios eram só em Campo Grande e de vez em quando em Bonito. Na minha gestão fizemos campeonatos em Aquidauana, Coxim, Ponta Porã, Jardim, Três Lagoas. Isso fez a modalidade ser expandida por todo o Estado, deu suporte para os bracistas competirem. Agora temos campeões brasileiros, equipe de base. 

Deixei a federação em 2011, nas mãos de Emílson Barreto, que também é bracista em atividade e isso é muito importante, pois o bracista em atividade sabe das dificuldades. Emílson está fazendo um excelente trabalho, conseguiu passagens para atletas irem para o Brasileiro, isso na luta de braço, é muito raro de acontecer.

EA - Quais são suas principais conquistas como atleta?

ER - Tenho nove títulos brasileiros, dois sul-americanos, três estaduais e fui quinto colocado no Mundial em 2010, a melhor colocação de um brasileiro em mundial na minha categoria da história. Foi o único mundial que disputei.

EA - Por quê?

ER - Por não ter condições financeiras. Nos últimos oito anos fui convocado pela Seleção Brasileira para o Mundial, mas só pude ir em 2010, quando contei com ajuda de amigos. 90 % das competições que disputei fora do estado foram por conta própria, com dinheiro do meu bolso, sem apoio algum. Fui chamado para campeonatos na Rússia, Los Angeles, mas nunca pude ir.

EA - E qual é o objetivo para este ano?

ER - Este ano eu quero jogar o Mundial que vai ser no Brasil no segundo semestre. Para me classificar tenho que disputar a seletiva em junho. Os três melhores de cada categoria serão convocados para representar o Brasil no Mundial. E este ano vou para a categoria Máster então as chances de eu conquistar uma medalha dobram.

EA - Você acha que a luta de braço sofre preconceito?

ER - Antigamente, era difícil pensar que um dia iam considerar a luta de braço um esporte. Agora já estamos indo para o 31° mundial. A luta de braço nasceu entre amigos, mas ficou com fama de esporte de boteco. Você não vê gente no boteco lutando boxe, ou jogando tiro ao alvo. É um esporte que eleva os ânimos. E a primeira regra de um bracista é não jogar em qualquer lugar, só em lugares específicos, de treinos, para não banalizar o esporte. A luta de braço surgiu nos postos de gasolinas, com os caminhoneiros, nos portos, estivadores. Mas hoje é totalmente profissional.

EA - A falta de apoio e estrutura no estado faz atletas mudarem de estado se recebessem proposta para jogar fora?

ER - Sim. Eu mesmo, em 2004 e 2005 joguei pelo estado do Paraná. Eles me contrataram, eu ganhei dois Brasileiros. Pagavam todas minhas despesas, eu ia viajar para campeonatos de avião, era outra coisa. Atendi às expectativas deles. Fui convidado também para ir para São Caetano do Sul, mas não fui porque na época era presidente da Federação. É outra filosofia e cultura de incentivo ao esporte. Mato Grosso do Sul está muito longe dos estados do Sudeste e Sul.

Muitos bracistas sul-mato-grossenses não vencem campeonatos nacionais, mundiais, porque não participam. Os empresários, as empresas  sul-mato-grossenses não entendem que levar o nome do estado para fora traz retorno. Nosso governo precisa ver que o esporte ajuda na segurança, na educação. Esporte é vida.

EA - A que você atribui todas essas conquistas na sua carreira?

ER - O apoio da família é muito importante, da minha esposa. Sempre viajo para competir preocupado em apenas uma coisa: representar bem minha família. Sou dedicado, sempre treino para ser o melhor. Nunca desisto e tecnicamente falando, tenho a mão forte, que, na luta de braço, é onde tudo começa.

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