Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 08/09/2009 15h58

Bate-bola: Eva Regina

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Identificação antiga: jornalista lembra que desde pequena já escrevia redações sobre futebol no colégio. Identificação antiga: jornalista lembra que desde pequena já escrevia redações sobre futebol no colégio. (Foto: Foto: Vitor Yoshihara/Esporte Ágil)

Eva Regina

Aos 32 anos, Eva Regina Ferreira de Freitas é uma das poucas mulheres que trabalham com esporte em Mato Grosso do Sul. Nascida em Maringá, no Paraná, mas radicada no Estado desde pequena, a jornalista trabalha na Equipe Show de Bola, na Rádio Transamérica, e no programa No Tempo da Bola, na TV Pantanal, em ambos ao lado de grandes nomes do jornalismo esportivo de Mato Grosso do Sul. Pós-graduada em Imprensa Esportiva, Eva é formada pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e atua há 10 anos na área, já tendo trabalhado para diversos veículos, como TV Record e a extinta TVE.

Esporte Ágil - Como foi a primeira vez que você teve interesse pelo jornalismo?
Eva Regina -
O jornalismo é desde criança, inclusive o jornalismo esportivo. Sempre fui de praticar, acompanhar, desde pequena ficava na frente da TV vendo esporte. Sempre gostei de escrever também. Eu gostava muito de escrever. Eu assistia alguma coisa e escrevia sobre aquilo. Minhas redações de escola muitas vezes eram muito ligadas ao esporte.

Esporte Ágil - Você teve influência de alguém ou de algum familiar?
Eva Regina -
Minha família, todos são ligados ao esporte, mas eu sou mais. Meu pai, freqüentador de estádio, meu irmãos... Eu desde pequena gostava de ir, então já veio o interesse, mas tem influência sim, pois a família gosta de esporte.

Esporte Ágil - Você enfrentou algum tipo de preconceito quando você começou?
Eva Regina -
Com certeza, principalmente no futebol. Pela rádio, entrava e ficava todo mundo olhando. Tem uma historia engraçada. Uma vez teve um jogo, se não me engano entre Coxim e Atlético Paranaense. Eu estava lá e chegou um cara de uma rádio do interior e perguntou quem fez o gol. Eu expliquei o gol e ele ficou olhando pra minha cara. Passou um pouco, ele foi perguntar pra outra pessoa como foi o gol, para um homem, e o cara falou a mesma coisa. Foi uma coisa que marcou. Acho que ele não confiou muito na informação. Pra você ocupar um espaço no jornalismo esportivo é difícil, e pra mulher tem que provar muita coisa.

Esporte Ágil - E pra você, como está a situação da mulher nesta área? O que falta para ter mais mulheres nos estádio e ginásios?
Eva Regina -
Já mudou bastante. Quando eu comecei, era mais difícil, pois não se via mulher no estádio. Eu tinha uma amiga que trabalhava na TV e ela me ligava do estádio perguntando as coisas. Eu acho que está mudando, eu tenho ajuda de muita gente. Eu já vejo mais companheirismo nessa área. Eu gostaria que tivesse mais mulheres nesta área. É bacana ter bastante mulher, já vemos isso nos grandes centros.

Esporte Ágil - E quais eventos esportivos que você estava presente que ficaram guardados na sua memória?
Eva Regina -
Um momento que eu lembro muito, como torcedora, foi na final do Estadual de 1996, um Comerário, o Morenão cheio. Existia muita rivalidade e o Valdir fez um golaço e eu tenho este gol guardado até hoje. Foi gol do Fantástico até. Era muito engraçado, pois tinha até uma rixa: eu operariana e meu irmão comercialino no estádio. O momento ficou marcado pra mim, pois nos grandes momentos do futebol eu era pequena. Toda vez que alguém pergunta qual o Comerário da sua vida, eu respondo: "É esse!". Como jornalista, foram muitos momentos. Eu achei muito bacana o Comerário de 2006, que a gente trabalhou muito pra fazer e ver aquelas oito mil pessoas, ver toda aquela festa. Como jornalista, é uma coisa que fala: "Nossa, eu produzi". Foi um sentimento muito bacana.

Esporte Ágil - Você falou do Morenão lotado. Na sua opinião, por que o estádio hoje não enche e o que é preciso fazer para vê-lo lotado novamente?
Eva Regina -
Se tiver um bom espetáculo, o torcedor vai. Quando traz grandes jogos pra cá, o torcedor comparece. Então, o que falta? Falta base. Acho que os times tem que investir. Essa é a palavra. Precisa se manter um time. Isso acontece muito aqui. Acaba o Estadual e desmancha tudo, aí no ano que vem começa a pensar de novo. Isso não pode acontecer, tem que manter uma base, um time bom, pois a partir do momento que tem um time bom, que tem investimento, o torcedor vai. Quando você pergunta pra uma criança o time que ela torce, é sempre time de fora. Não conhece Operário, não conhece Comercial. A partir do momento que você tem um bom espetáculo, o torcedor comparece. Tanto que você vê no interior, que sempre tem um bom público, mas tem muito apoio.

Esporte Ágil - Você trabalha com assessoria de imprensa também. Você acha que os esportes aqui de Mato Grosso do Sul pecam nessa questão de assessoria?
Eva Regina -
Com certeza. Assessoria de imprensa é muito importante, pois ela não vai cuidar só da imprensa, mas de toda comunicação de um clube. Eu acho que os clubes daqui ainda não se conscientizaram da importância de uma assessoria, pois todos os grandes clubes tem uma grande assessoria. Por exemplo, na série C do ano passado o Operário montou um grande time, mas faltou trabalhar essa questão.

Esporte Ágil - O que os jornalistas têm que fazer para mudar essa visão que os clubes tem da assessoria?
Eva Regina -
Eu sempre me faço essa pergunta, mas acho que é mostrando trabalho. Você vê a diferença quando um material é trabalhado pela assessoria, é tudo muito mais fácil. Nós que trabalhamos no meio,pra você conseguir contato, você sai ligando pra todo mundo. Se você tem uma assessoria, você vai direto à pessoa e já marca. Os próprios profissionais têm que se conscientizar. Assim como os dirigentes são profissionais, eles têm que pegar um trabalho profissional também de uma assessoria de comunicação.

Esporte Ágil - Qual diferença você sentiu trabalhando na TV, no rádio e nos veículos de imprensa escrita?
Eva Regina -
É bem diferente mesmo. Eu até brinco, depois que você faz rádio, você faz os outros. Não porque é mais difícil, mas é porque o rádio é ali, não tem replay. Se eu perder o lance, já era, principalmente no futebol ao vivo. Na TV eu revejo. No jornal você vai escrevendo e é mais fácil.

Esporte Ágil - Você parece ser bem ligada ao futebol e muitas pessoas culpam a Federação pela decadência do futebol local. Você concorda com isso?
Eva Regina -
É um assunto complicado, pois desde que eu me entendo por gente são as mesmas pessoas na Federação. Não vou questionar o trabalho de uma ou outra pessoa, mas não se pode ficar tanto tempo a mesma pessoa, pois aí fica sempre a mesma política, as mesmas coisas. Então, eu acho que não tem que ficar a mesma pessoa sempre, acho que deveria ser curto esse prazo, não poderia ter reeleição. Mas tem gente que fala: "Mas não dá pra mostra trabalho em pouco tempo". Mas também não precisa ficar tanto tempo a mesma pessoa a vida inteira no mesmo lugar. Será que não seria o momento da mudança? Será que não seria o momento da gente repensar tudo isso? Eu acho que é uma discussão que deveria vir à tona com todo mundo que gosta do futebol. Não gosto de questionar o trabalho de um ou de outro, mas eu acho que é muito tempo pra mesma pessoa ocupar um cargo.

Esporte Ágil - Mudando um pouco de assunto. A Copa não veio pra cá. Na sua opinião, por que ela não veio pra cá e o que devemos fazer para aproveitar este evento?
Eva Regina -
Na minha opinião, ela não veio pra cá por questão política. Eu acreditei até o último momento, no momento do anúncio eu estava na Afonso Pena até. Eu acho que a gente acordou tarde aqui. Ano passado, eu fiz assessoria em Cuiabá e todo mundo já falava em Copa lá e aqui não. Aqui ninguém acreditava. Eu acho que a única vantagem que Cuiabá tinha era um povo empolgado, outdoor e todo mundo falando em Copa. Aqui não tinha isso. Quando veio os integrantes da FIFA aqui, eu vi aquele povo na rua e fiquei emocionada. Ali o pessoal acordou. Pode ser tarde, mas é uma questão política. Se você for pensar bem, Campo Grande ganha em todos os quesitos. Tanto que eles vão ter que demolir o estádio e construir outro. Aqui gastaríamos menos com estrutura, temos bom acesso e ruas largas. Acho que Campo Grande tem mais estrutura, mas nessa queda de braço política Cuiabá levou a melhor.

Esporte Ágil - E o que a gente faz pra aproveitar este evento?
Eva Regina -
Eu sou muito esperançosa. Eu acho que a gente pode conseguir a Copa das Confederações. "Ah, mas é só nas cidades escolhidas". Mas poxa, não pode ter uma exceção? Então, existe inclusive por parte da Federação um certo interesse em tentar conseguir trazer jogos pra cá da Copa das Confederações. E o Pantanal é aqui. Que for pra Cuiabá, acaba vindo pra cá pra conhecer Mato Grosso do Sul. Então, acho que de certa forma já estamos contemplados por isso.

Esporte Ágil - Muito se discute aqui que falta apoio do poder público e privado para o esporte. Por que você acha que falta esse apoio?
Eva Regina -
É uma questão muito difícil mesmo, você conscientizar tanto o poder público e as empresas para investir no futebol. Você fala: "Será que eu vou investir? Quem são as pessoas que estão lá? Será que eu confio?". É uma coisa a longo prazo e a pessoa não consegue imaginar o retorno que ela teria. Eu até brinco que vou ganhar na Mega Sena e criar um time de futebol aqui e em 10 anos ele estará na Série A. mas é difícil a pessoa se conscientizar da importância do futebol, a importância do retorno. É uma questão do marketing esportivo. A partir do momento que você tem um time forte aqui, aumenta o numero de pessoas que querem praticar o esporte. Vai pegar crianças na rua, que podem se interessar mais pelo esporte. Você vê o vôlei que foi campeão nas Olimpíadas de Barcelona, em 1992. De lá pra cá, todos começaram a jogar. Hoje é o segundo esporte mais praticado. Então, a partir do momento que você investe, você está mexendo não só com o marketing, mas com no social. Então, acho que poderia ter mais investimento aqui, e não tem.

Esporte Ágil - Pra terminar, que conselho você daria para as jovens que pensam em seguir a carreira de jornalismo esportivo aqui no estado?
Eva Regina -
Olha, tem que gostar. Em primeiro lugar, gostar de esporte. Você tem que pensar que você vai trabalhar feriado, no fim de semana. Você fica ligado, a noite eu quero saber as noticias, assisto muita TV. Tem que se dedicar. Tem que ler muito, ouvir muito. Eu ouço muito rádio, principalmente os grandes centros. Não pode ter medo de perguntar, chega e pergunta numa boa. Tem que ter humildade, saber perguntar, tem que gostar e se esforçar. Hoje em dia, em qualquer profissão você tem que se esforçar muito. Pra você conseguir um lugar ao sol você tem que ter mais que todo mundo.

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