Bate-Bola | Vitor Yoshihara/Da redação | 08/06/2009 16h40

Bate-bola: Pierre Adri

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Adri mostra quadro de foto em que apitou partida do Comercial. Adri mostra quadro de foto em que apitou partida do Comercial. (Foto: Foto: Vitor Yoshihara/Esporte Ágil)

Pierre Adri

Nascido em 22 de novembro de 1946, o campo-grandense Pierre Adri é nome conhecido pelos torcedores sul-mato-grossenses, principalmente da gloriosa época em que Operário e Comercial disputavam grandes competições. Apesar de ter se formado em Direito, foi no Jornalismo que Adri teve a oportunidade de trabalhar no rádio, podendo comentar uma de suas grandes paixões: o futebol.

Há mais de 20 anos à frente da Revista Destaque, o jornalista que já teve passagens marcantes pelos veículos Diário da Serra e Jornal do Amanhã, espera agora que seu filho, Reinaldo Di Giacomo Adri, acadêmico de jornalismo da Uniderp, possa continuar sua carreira, marcada sempre pela presença de sua inseparável máquina de escrever.

Esporte Ágil - Como começou seu interesse pelo esporte?
Pierre Adri -
Eu sempre gostei de futebol, desde criança jogava pelada no fundo da minha casa, nos campinhos do Visconde de Caeru, do Colégio Dom Bosco, do  Oratório. Até os 18 anos eu jogava futebol, toda folga que eu tinha era no futebol. Então automaticamente tomei interesse pelo esporte. Fui estudar no Rio de Janeiro com 18 anos e voltei com 23, 24 anos, e logo em seguida um amigo meu de infância, o Gilberto Pereira Guedes, que era narrador comandando a Rádio Difusora, me convidou para ser comentarista de arbitragem, já que eu era diretor de árbitros da Liga Esportiva Municipal Campo-grandense. Aí eu passei a integrar a equipe de esportes da rádio, lembro bem que o comentarista era o Arlindo Caldas, ex-jogador profissional de futebol que já é falecido, e eu era um comentarista de arbitragem e depois passei para comentarista titular e assim fomos tocando através da rádio.

Esporte Ágil - Como foi sua carreira depois?
Pierre Adri -
Permaneci lá até 1973, no final do ano, aí fomos para a Rádio Cultura, fiquei lá mais um ano e pouco, de lá voltei para a Difusora, que já era comprada pelo Grupo Zahran, e de lá eu fui para a TV Morena de 75 a 77, todo dia fazendo um comentário esportivo. O Mario Mendonça abria e agente fazia os comentários a respeito do campeonato. Naquela época o futebol estava em ascensão aqui porque participava efetivamente do campeonato nacional, ou com Operário ou com Comercial. E em 1977, me lembro perfeitamente como se fosse hoje, no dia 1º de maio aumentou o salário de forma grandiosa, mais de 40%, e houve uma crise do petróleo, aí o dono da TV falou que ia acabar com o esporte, é uma economia que ele iria fazer, aí acabou. Depois disso fui para a Rádio Educação Rural, fiquei um tempão lá com o Pereira Guedes, com o Edvaldo Ribeiro e com Reinaldo Costa, que você já deve ter ouvido falar, da ESPN e hoje na Rádio Eldorado. Ele saiu daqui para integrar a equipe do Osmar Santos, e eu fui comentarista dele por muito tempo.

Esporte Ágil - Você trabalha apenas com esporte?
Pierre Adri -
Em função de tudo isso eu fiquei vinculado ao esporte. É claro que com o decorrer do tempo outros assuntos foram caindo na minha função. Comecei a escrever sobre política e economia. Em 1978 eu já escrevia esporte no Jornal Diário da Serra, com uma coluna que se chamava "De Charles a Pelé". Essa coluna pegou muito bem aqui em Campo Grande, aí eu passei para o Jornal da Manhã. Fiquei 10 anos escrevendo lá com uma coluna chamada "Da chuteira ao Cartola", que vinha debaixo até lá em cima. Posteriormente um diretor do jornal ficou doente e acabou saindo de lá. Os funcionários se reuniram e pediram que eu fosse o diretor. Aí eu parti para ser diretor por seis anos consecutivos. Depois sai do jornal e fundei a revista Destaque, com o Leite Neto, ex-presidente do Operário já falecido. Na revista estou até hoje e estou no esporte até hoje e comando com o Rui Pimentel a equipe esportiva da Rádio Difusora.

Esporte Ágil - Dá saudade da época que o Morenão enchia de torcedores?
Pierre Adri -
Bem verdade que dá um pouco de saudade de antigamente, quando a cidade tinha 150 mil habitantes, e 15 mil pessoas pelo menos iam assistir qualquer jogo que tinha. Vinha todo mundo assistir jogo profissional. O futebol tinha uma característica muito grande em termos de paixão. E por que não existe mais isso? Por dois fundamentos: primeiro desinteresse, em função dos dirigentes que estão lá para sobreviver do futebol e não trabalhar para o futebol. O outro porque você liga a televisão de madrugada tem seis canais tem todos os esportes imagináveis em qualquer horário. Então tem jogo de todo lado. Da Turquia, da Itália, da Espanha, da França, de todo o lugar. Todos os esportes estão inseridos hoje nas programações esportivas da televisão. Então o cara prefere ficar na casa dele tomando um refrigerante, uma cervejinha, assistindo tudo como se tivesse no campo. Essa também é uma das razões que o esporte aqui não ganhou dimensão.

Esporte Ágil - O que tem de ser feito para isso mudar?
Pierre Adri -
Primeiro um planejamento a médio prazo, nas categorias de base. Pegar e fomentar um apoio para a juventude. Tivemos o Keirrison agora, no passado o Baianinho, o Muller, que jogou na seleção brasileira, o Lima, que foi centro-avante do Corinthians e do Palmeiras, o Amarildo, zagueiro do Palmeiras. Se eu fosse citar nomes tinha vários jogadores que saíram daqui para jogar nesses times. Fomentar apoio para essa juventude acho que a médio prazo nossos times vão se reestruturar. Outra coisa que tem de fazer em termos de futebol: não pode de forma alguma jogar um jogo daqui de domingo às 15h, na hora que jogam Corinthians e Santos. Vamos jogar sexta-feira a noite, domingo de manhã, segunda-feira, na terça, e não querer brigar com grandes clássicos do futebol brasileiro. Esse povo ta errado nesse ponto. Se eles se conscientizassem de alguma forma para colocar esses jogos fora do horário dos jogos principais que toda a torcida do país gosta, acho que gradativamente o torcedor do Operário, do Comercial ou do Cene voltará ao estádio para apoiar seu respectivo time. Assim o futebol vai crescer, caso contrário vamos cada vez mais ver um Tony Vieira.

Esporte Ágil - O que você acha do atual presidente do Operário?
Pierre Adri -
Esse aí colocaram lá e ele está aproveitando. Está aparecendo no site, na mídia, nos jornais, na televisão, como presidente do Operário. Para ele que não tem nada é uma boa, está sendo convidado para almoço, jantar, reunião, discussões... Nós queremos pessoas que tenham planos, projetos que possam ser colocados em prática. E para se colocar em prática um projeto tem que ter ação, tem que vir com uma vontade que realmente tenha resultados positivos. Só para falar que "sou presidente do Operário" ou "sou presidente do Comercial" ninguém aqui está precisando disso. Acho que Campo Grande, por ser um lugar que conseguiu um terceiro lugar em termos nacionais em 1977 com o Operário e teve participações boas em campeonatos nacionais deveria estar na segunda divisão, aí sinceramente todo mundo voltaria a apoiar o futebol. Hoje estamos na quarta divisão, e se tivesse quinta ou sexta nós cairíamos. O certo agora é esperar um tempo, ganhar a quarta, passar para a terceira, montar um time de acordo com o apoio da sociedade, dos comerciantes, dos industriais, do governo, da prefeitura, e fazer esse time subir para segunda divisão. Aí o próprio tempo se encarregará de colocar esse time no lugar de destaque que merece.

Esporte Ágil - Já houve alguma tentativa de levantar o Galo?
Pierre Adri -
Há uns cinco anos atrás, o senhor Jamil Naime, que foi presidente do Operário, mandou avisar que se cada um dos comerciantes da 14 de julho desse um real por mês eu banco o Operário. Tem mais de 400 comerciantes e nenhum deu apoio. Não daria nem pra pagar uma chuteira de um jogador, e o Jaime bancaria 500 mil reais por mês. Se todo mundo desse apoio ele também daria. Hoje nosso futebol está no ostracismo.

Esporte Ágil - A Federação de Futebol de MS tem alguma culpa na atual situação dos clubes?
Pierre Adri -
A Federação não tem culpa de nada disso aí. A FFMS aceita o que os clubes colocam. Se eles querem jogar às 9 horas da noite ou às 5 da manhã ela coloca. A Federação acata decisões. A Federação é a que menos tem culpa na história. Ela já tentou ajudar, mas os clubes não querem. Tem dirigente de futebol que não admite deixar de jogar no domingo a tarde. Aí não tem jeito.

Esporte Ágil - Isso ocorre por eles ainda acharem que são grandes?
Pierre Adri -
Não é acharem que são grandes. Eles acostumaram a jogar com aquele perfil, aquele mundo que rodeia eles. Mas isso não tem que ser um dirigente, tem de ser todos. Lá em Corumbá eles jogam às 10 da manhã e pelo menos cinco mil pessoas vão ao estádio. Tem que ter cabeça. Eles ganham dinheiro lá e o povo apoio e vai ao estádio.

Esporte Ágil - Se recorda de momentos marcantes de sua carreira no rádio?
Pierre Adri -
Eu participei da primeira transmissão internacional de rádio. Fomos para Cali, na Colômbia, no Mundialito de 1975, que o Brasil foi campeão, comandado pelo Cláudio Coutinho. Em 73 houve uma transmissão no Ceará, que foi a primeira participação do Comercial no campeonato brasileiro. Parelelamente a Copa do Mundo na Espanha de 1982, também acompanhei o Operário na President Cup, na Coréia do Sul, que tinha doze seleções, um time da Holanda e um do Brasil. O Galo empatou com os coreanos no final e dividiram a taça, e nós transmitimos de lá para Campo Grande. Eu e o Pereira Guedes ficamos 20 dias lá, em várias cidades. E o que é planejamento? A Coréia já pensava naquela época em disputar do Mundial, e de realizar uma Copa. Você vê o que é organização. Hoje a Coréia, queira ou não queira, é uma potência futebolística. Participa de vários torneios dando trabalho para muita gente.

Esporte Ágil - Existe a possibilidade de jornais esportivos se sustentarem aqui no MS?
Pierre Adri -
Eu acho que é possível. Esses dias peguei o jornal de vocês e falei para falar para o dono que ele é um "doido". Se for basear só no futebol daqui ele não consegue. Agora ele gosta de basquete e de outros esportes. Se essas federações fomentarem algum apoio é capaz de se manter o jornal, com apoio das indústrias, do comércio, alguma inserção do governo, ele consegue manter o veículo. Tem condições sim.

Esporte Ágil - É possível o profissional de jornalismo viver só de esporte?
Pierre Adri -
Ele tem que escrever em jornal, falar em rádio, ser correspondente de rádio de interior... Tem que somar tudo, pegar uns mil reais de cada um para conseguir viver. Caso contrário ele não tem alternativa. E hoje para conseguir emprego você sabe que não está fácil. Tem muito engenheiro aí ganhando 600 reais por mês para falar que está empregado.

Esporte Ágil - A assessoria de imprensa poderia ser melhor utilizada pelos nossos esportistas?
Pierre Adri -
Acho que é muito mal utilizado. Você consegue notícias investigando, não eles te passando. Quem passa mais notícias esportivas são os órgãos governamentais. Aí tem um ou dois jornalistas, e os demais? As federações daqui não tem. Quando aparece uma notícia ou o repórter de rádio, de jornal ou de site tem que ir atrás. Notícia realmente eles não tem informado. E te digo mais: hoje em dia está fácil dirigir uma federação dessas aí porque todas elas ganham um dinheirinho. O governo faz repasses financeiros, é só estar direitinho com INSS, Fundo de Garantia e outros, conseguindo um bom dinheiro para se sustentar, colocar secretária, assessor de imprensa, pagar telefone, pagar aluguel... E depois as inscrições para qualquer campeonato eles cobram, não é de graça não. Uma corrida se cobrar 50 reais de cada inscrito vai dar um dinheiro bom. Agora tem presidentes aí que não querem mais sair.

Esporte Ágil - Qual a importância do rádio para o esporte?
Pierre Adri -
O rádio é importante porque transmite a notícia de imediato. Foi mais importante no passado, quando não tínhamos essas transmissões esportivas via televisão. Hoje o rádio é coadjuvante. Tem gente que na sua casa ainda liga o rádio para ouvir, mas caiu bastante o percentual. Apesar disso ainda se constitui em peça chave para a evolução do esporte. Quem ouve rádio fica sabendo primeiro, a mesma coisa que a internet.

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