Bate-Bola | Rosália Silva | 27/10/2004 18h12

Belquice Falcão treina equipe de basquete adaptado

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Belquice Falcão fala sobre basquete adaptado

A corumbaense Belquice Florentim Falcão, 42 anos fala no Bate Bola desta semana sobre o trabalho que ela e a professora Yara Yule desenvolvem no Caira (Centro-Arco Íris de Reabilitação Alternativa) com atletas portadores de deficiência física, mas modalidades de basquete e atletismo. A professora de educação física, que faz parte do quadro da Fundesporte, trabalha durante o dia no órgão, e no período noturno treina a equipe de basquete adaptado do Caira. Mesmo com o pouco incentivo que recebem, as duas profissionais pensam em aumentar o número atletas. Tanto que o projeto para o próximo ano é tornar as modalidades paradesportivas mais conhecidas da população em geral e, desta forma, trazer mais pessoas para a prática do esporte.

Esporte Ágil - Como você entrou no meio esportivo? Você iniciou fazendo alguma modalidade?
Belquice Falcão - Sim, desde a época que cursava o ginásio eu praticava basquetebol e atletismo. E como gosto e estava sempre envolvida nesse meio, fui fazer o vestibular para Educação Física, para poder continuar nesta área. Cursei Educação Física aqui na UFMS (Universidade Federal de MS). Eu era de Corumbá e vim fazer aqui a faculdade no ano de 1981 e me formei em 83.

Esporte Ágil - E depois de formada, qual caminho você seguiu?
Belquice Falcão - Na época, apareceu uma vaga para eu entrar na Secretaria de Desenvolvimento Social, que tinha um departamento de esportes. A vaga era para ir trabalhar em Jardim e eu assumi o ginásio de esportes de Jardim, fiquei nove meses dando aulas de ginástica rítmica desportiva e voleibol, até conseguir a transferência de volta para Campo Grande. Aqui eu entrei na Secretaria, hoje a de Juventude e do Esporte e Lazer, e fui trabalhar na área de lazer.

Esporte Ágil - Na sua família tem alguém que pratica esporte?
Belquice Falcão - Meus dois filhos jogam basquete, o mais velho é arbitro também e faz Educação Física e se forma ano que vem.

Esporte Ágil - Exemplo da mãe?
Belquice Falcão - Pode ser, não diretamente, mas estavam no meio em que eu estou, no meio do esporte.

Esporte Ágil - E até quando você competiu?
Belquice Falcão - Até o nível universitário, na faculdade a gente tinha um time que disputava o campeonato Centro Oeste e os da universidade. Até aí eu joguei, também disputei uma edição dos Jogos Abertos de Campo Grande, mas não treinava como antes.

Esporte Ágil - E hoje você ainda pratica algum esporte?
Belquice Falcão - De vez em quando. Academia eu faço sempre, principalmente, musculação. Agora, quando eu posso vou bater uma bolinha com o time de máster feminino de basquete.

Esporte Ágil - Mas depois que você parou de competir, você continuou envolvida com o basquete?
Belquice Falcão - Quando eu parei de jogar basquete fui fazer o curso de arbitragem. Entrei na Federação de Basquete e fui atuar como arbitra. E depois só como oficial de mesa, em que atuo até hoje, isso já tem 15 anos.

Esporte Ágil - E como começou o seu trabalho com o basquete adaptado?
Belquice Falcão - Tudo que é basquete me chama atenção, e quando foi em 95, apareceu um curso de arbitragem para basquete em cadeira de rodas. Fiz e fui no Campeonato Brasileiro no Rio de Janeiro, comecei na arbitragem. O time de basquete daqui perdeu o técnico, houve uma competição brasileira no Espírito Santo e me chamaram para acompanhar a equipe. Fui, ficamos em terceiro lugar, daí em diante eu me envolvi tanto com a equipe que não saí mais. Larguei a parte de arbitragem, porque não dá para conciliar as duas coisas: ser arbitra e ser técnica.

Esporte Ágil - Já era na equipe do Caira?
Belquice Falcão - Não, eu comecei no Cemdef e a professora Yara era do Caira. O Cendef terminou com essa equipe, eu já conhecia a Yara Yule desde a universidade e ela me convidou para ficar junto com ela. No Caira agora nós estamos trabalhando com atletismo e basquete.

Esporte Ágil - Quantas pessoas estão praticando o basquete?
Belquice Falcão - No Caira são 10 jogadores de basquete. Eles trabalham o dia inteiro e treinam à noite, a nossa dificuldade é achar uma quadra para treinar. Nós já treinamos no União dos Sargentos e no Circulo Militar, mas eles pediram a quadra de volta, agora treinamos no Parque Ayrton Senna. E lá, a dificuldade é maior é a locomoção dos atletas, que são paraplégicos e não vão treinar muitas vezes porque a entidade não tem um carro, então fica difícil a pratica do esporte.

Esporte Ágil - E só tem o time masculino?
Belquice Falcão - O feminino não tem equipe, só tem uma menina no basquete, e no atletismo estamos tentando trazer mais umas quatro meninas. No ano que vem queremos soltar na mídia para que assim possa aparecer mais pessoas para praticar. Muita gente não sabe nem que pode praticar uma atividade esportiva. O basquete, por exemplo, muitos pensam que é só para quem anda de cadeira de rodas, não é. Aqueles que são andantes também podem jogar o basquete de cadeira de rodas.

Esporte Ágil - E porque as mulheres estão pouco representadas na modalidade?
Belquice Falcão - Estamos tentando trazer um pessoal novo,as mais antigas, já casaram, tiveram filhos ou estão trabalhando, fica mais difícil de ir praticar o esporte. Estamos querendo trazer essa criançada, os pais também, para incentivar e para ver se leva. Porque até pouco tempo eles ficavam dentro de casa escondidos, agora que tão começando a sair de casa para participar um esporte.

Esporte Ágil - E qual o nível do Estado em relação as outras regiões do País?
Belquice Falcão - Se concentra mais em São Paulo e Rio de Janeiro, mas estamos indo bem. No basquete ganhamos fora um terceiro lugar, classificamos para a primeira divisão. Na bocha, quando saí o Cemdef tem tido bons resultados e no futebol de 7 teve quatro atletas que disputaram a Paraolimpíada de Atenas. Na luta de braço temos o Carlos que foi vice-campeão mundial neste ano. Estamos bem, em relação à qualidade dos portadores de deficiência que estão competindo.

Esporte Ágil - E quais são as entidades que estão trabalhando com o esporte de rendimento entre os atletas especiais?
Belquice Falcão - É só o CPC (Clube para Paradesportivo Pantanal) - que é o antigo Cemdef - e o Caira, que trabalham com os portadores de deficiência física, não é mental ou outra área. As duas instituições têm feito projetos, o governo tem dado apoio, porque requer dinheiro para comprar implemento. O atletismo precisa de uma cadeira de arremesso, basquete precisa de cadeiras e elas são caras. No GP MS de corrida pedestre que aconteceu no dia 24 de outubro, com muito custo conseguimos comprar três cadeiras de rodas de corrida para que três corredores pudessem participar, cada uma custa em torno de três mil, depois tem toda a manutenção dela, é pneu que desgasta e outros.

Esporte Ágil - E como está a prática das modalidades adaptadas no interior?
Belquice Falcão - Não tem. Temos feito apresentações no interior, estivemos a pouco em Jardim fazendo a abertura dos Jogos Escolares. E eles perguntam o que podem fazer para formar equipe, mas não têm nem entidade formada, mesmo dizendo ter um grande número de portadores de deficiência. Eles vão ter que se reunir, formar uma entidade. Estamos orientando para que eles saibam como fazer isso, porque só depois de um ano de existência da entidade é que ela pode buscar recursos do governo. Tem que criar agora para depois entrar com o projeto e começar fazer alguma coisa. Agora o que precisa também é um pouco mais de incentivo. A entidade não consegue pagar o profissional, eu sou professora aqui na Fundesporte e à noite eu vou dar aula para os atletas do basquete adaptado. Não ganho para ir até lá, eu vou porque eu quero, e a Fundesporte me dispensa quando eu tiver que viajar, então fica fácil para mim. A professora Yara tem 40 horas na Secretaria de Educação e foi cedida para a entidade. Precisamos mais disso, mais professores da área cedidos para a entidade.

Esporte Ágil - E qual a diferença de trabalhar com os atletas ditos normais e os com deficiência física?
Belquice Falcão - No caso dos jogadores basquete de cadeira de rodas, não é fácil de lidar com eles. Alguns são revoltados pela própria deficiência. E o profissional tem que ganhar a confiança deles, é um pouquinho mais trabalhoso, mas não é muito diferente não. Agora, no caso de bocha, é mais comprometimento ainda, porque eles são PCs, eles nem falam direito, tudo depende da pessoa, para tomar banho, e o técnico tem que estar disposto a fazer isto, porque quando viaja não pode levar muita gente, torna-se mais cansativo. No caso da cadeira de roda, em cada parada que faz para almoçar tem que armar a cadeira para eles descerem, ajudar a subir degrau.

Esporte Ágil - Eles treinam também pensando em chegar nas Paraolimpíadas?
Belquice Falcão - No caso do basquete não, porque é mais difícil, e também mais competitivo, temos uma média de trinta times no Brasil. Esse ano é que a gente conseguiu na ter uma equipe brasileira na Paraolimpíada, na edição passada o Brasil não conseguiu se classificar, mas neste ano ficamos em décimo lugar.

Esporte Ágil - E os projetos para o próximo ano, você estava dizendo que uma das propostas é trabalhar mais com a mídia e divulgar mais a modalidade.
Belquice Falcão - É, queremos ampliar o número de modalidades e trazer mais gente nova para treinar. Um projeto que temos lá no Caira, porque o atleta começando mais cedo a prática do esporte logicamente terá um rendimento maior. E os interessados devem procurar o Caira para se filiar e pode ser que ela não possa jogar basquetebol, mas tem o atletismo ou outra modalidade. O Caira fica na Arlindo de Andrade 70, próximo à Rodoviária de Campo Grande.

Esporte Ágil - E quantos atletas estão competindo no atletismo pelo Caira? 
Belquice Falcão - Vamos entrar agora no Jores (Jogos Recreativos Especiais) com 15 pessoas, no masculino e feminino. Os Jogos serão de 12 a 15 de novembro, realizado pelo Clube Paradesportivo Pantanal, com apoio da Fundesporte. É um campeonato estadual que reunirá cerca de 250 pessoas portadores de deficiência física, mental, auditiva e visual, nas modalidades de atletismo, bocha, basquetebol para deficientes mental, futsal (físico e visual), tênis de mesa e polybat. A abertura vai ser dia 12, às 19 horas no Guanandizão, e as competições dos Jores fecham as atividades de competição deste ano para os atletas no Estado. Mas ainda estamos esperando a primeira divisão do basquete, que vai ser no final de novembro e no início de dezembro.

Esporte Ágil - Algo mais que você esteja trabalhando ou algo da Federação de Basquete de MS?
Belquice Falcão - Na Federação vamos ter a outra etapa do MS Olímpico, ainda sem data marcada para acontecer, já que estamos aguardando uma resposta sobre a agenda do Poliesportivo Dom Bosco.

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