Bate-Bola | Rosália Silva | 21/09/2004 23h13

Para Gilmar faltam apoio e competições para o ciclismo

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Para Gilmar faltam apoio e competições para o ciclismo

Gilmar Elias Batista é um profissional respeitado nacionalmente. Aos 42 anos, o ciclista que veio de Goiânia (GO) há 18 anos, dominou por um longo período o ciclismo estadual, tanto em MS, quanto em sua terra natal. Nas provas que acompanha os atletas da equipe pelo Brasil afora, Gilmar não enfrenta problemas para opinar nas provas, já que todos o conhecem e sabem que é treinador e formador de atletas em MS, dando livre acesso pra ele nas provas. Pai de três filhos, conta orgulhoso cada vitória que eles estão alcançando. O do meio, Jesus Brenno, tem se saído muito bem nas provas de contra-relógio individual, indicando a potência que o jovem de 17 anos pode e vem representando para o Estado. Nestas competições é "você contra o tempo, não depende de ninguém, só de você", explica o pai-coruja. E completa: "estou muito satisfeito, com o biótipo e com o esforço dele também". E não é para menos, Brenno está se mostrando um excelente atleta de subidas. "Eu passei para ele o que ele precisa, vai depender da continuidade dele". Na categoria júnior, Gilmar afirma que "no ano que vem ele (Brenno) tem 90% de chance de ser campeão brasileiro, se não acontecer nada com a bicicleta dele". O filho mais velho, o Brunno, cursa Educação Física e o caçula de 10 anos, Gilmarzinho, já conquistou os primeiros títulos em cima de uma bicicleta. Gilmar também conta que sua esposa também chegou a competir, mas atualmente está parada. O mesmo acontece com Gilmar, que não esconde a vontade de voltar a disputar provas, mas ele declara que tem medo e por isso pensa muito se deve voltar ou não. O medo que ele se refere é a dedicação que deverá ter aos treinos: deixar de sair, dormir cedo, perder um pouco a companhia da família. Perfeccionista, explica que tudo isso é porque sempre procurou fazer as coisas bem feitas, principalmente no que se diz respeito à sua paixão pelo ciclismo. O retorno, segundo ele, pede um trabalho mental e psiscológico muito grande, que está fazendo com ele próprio. "Sei das dificuldades que terei para iniciar um treinamento". Emocionado, Gilmar recebeu a Esporte Ágil para contar de sua carreira, da Gilmar Bicicletas e dos projetos. Ele ainda aproveitou para fazer uma alerta para melhorar ainda mais o nível dos ciclistas do Estado: é preciso ter mais competições e mais apoio.

Esporte Ágil - Como nasceu a Gilmar bicicletas?
Gilmar Elias - Na verdade começamos em Goiânia. Eu trabalhei dois anos numa empresa de bicicletas em Goiânia, a Duas Rodas. Eu já corria de bicicleta. Entrei nessa empresa, mas na época do quartel eu saí da firma, só que acabei sendo dispensado e fiquei desempregado. Meu cunhado me ajudou e resolvemos montar uma loja em Goiânia, na casa dele mesmo. Ficamos cinco anos com a loja lá em Goiânia e um colega meu, o Marquinhos, arrumou na Perkal para eu vir para cá. Eu e a família, o bebezinho, o mais velho tinha um ano. Chegamos em Campo Grande, eu trouxe minha parte da oficina e coloquei aqui dentro de casa, era só a parte aqui na frente. Eu falei para o Marquinhos ir vendendo, já que não tinha interesse em tocar mais a loja, pelo salário que tinha na Perkal dava pra sobreviver. Nisso, passou um mês e o Marquinhos descombinou com o irmão dele, o David, e acabou me vendendo o ponto, que na época foi 8 mil cruzados. Começamos: minha esposa trabalhando e eu correndo, viajando para todo lado do Brasil.

Esporte Ágil - Mas você continuava na equipe da Perkal?
Gilmar Elias - Continuei, só que no terceiro ano acabou. Não quiseram continuar mais, acho que por causa da lei de incentivo, tinha uma lei que favorecia o abatimento de imposto e essa lei acabou. Daí, eles acabaram também, não tinham mais interesse de investir; uma porque não era da área deles acho e também não tinha retorno, não tinha vantagem financeira, só tinha gastos. Acabou a equipe da Perkal e eu comecei, corri muitos anos pela Gilmar Bicicletas, mas sem fazer uniforme, sem ter equipe. Desde 87, foi constituído o clube, só que não estava investindo tanto. E comecei a fazer jogo de uniformes, investi em bicicleta, investi em material, apoiar e a ensinar os corredores. A maioria, hoje, que corre, tudo começou comigo. Mesmo fora da equipe, a maioria dos bons que estão aqui e fora do Estado, tudo passou pelas minhas mãos. Direta ou indiretamente, isso veio da cultura nossa de Goiânia. Eu aprendi com um técnico do Uruguai, que foi para Goiânia e trabalhamos dois anos juntos.

Esporte Ágil - Mas quando foi que você começou a correr?
Gilmar Elias - Comecei antes de 1977, mas quando eu comecei a correr mesmo foi em agosto de 77. Eu lembro que gostava muito de clube quando eu tinha 13, 15 anos. Eu trabalhava na indústria em Goiânia e ia ao clube da indústria, Ferreira Pacheco. E lá eu nadava o dia inteiro, brincava, e isso me ajudou muito, não só a natação como bola e outros esportes. Tem o Elias, que é um amigo que fabrica esses uniformes para gente hoje, e éramos tudo novo e o Elias gostava de bola, só que ele inventou de correr de bicicleta. Eu via as provas e tremia tudo de emoção... E resolvi correr também. Comecei, meu irmão tinha uma Monark 10, já que ele tinha mais condições, ele trabalhava... E eu não tinha bicicleta...

Esporte Ágil - Mas como foi sua primeira corrida?
Gilmar Elias - Eu cheguei e comecei a treinar com uns colegas meus, não sabíamos de nada e um ensinava o outro o que aprendia e tal. Sem condições nenhuma, eu não gosto de lembrar porque essa história é muito longa. Pelo que a gente tem hoje, não tinha na época, é duro lembrar disso. Quando comecei a treinar com os meninos, eu tinha uma bicicleta de dois canos, a gente virava o guidão. Naquela época não tinha nada, antigamente não tinha quase Caloi 10, a gente não tinha a de rosca, nem a de pressão. A gente tinha que cortar, arrumar a caixinha de rosca, daquelas bicicletas antigas para poder por no quadro da Caloi 10, porque a gente usava muito o centro de pressão e estragava muito. A gente conseguia fazer isso, reduzir a bicicleta, cortar cano e os quadros, deixar bem reduzido. Não na altura, mas reduzir o comprimento. Tudo orientado e os profissionais faziam para nós isso, nós éramos muito unidos em Goiânia, tinha uns 15 corredores assim. Consertava a bicicleta tudo junto, foi muito bom, na época porque era mais unido. Começamos assim, reduzindo quadro, pintando bicicleta, não tinha dinheiro, tudo de ferro, não tinha marcha, era sem marcha minha bicicleta. Para eu montar uma bicicleta de ferro boa na época, foi três anos, para você ver o tanto que era difícil: financeiramente e a dificuldade de encontrar material. Hoje, você encontra em todas as lojas, é muito mais fácil. E para nós foi muito difícil. Quando fui correr pela primeira vez, minha bicicleta era sem marcha, foi pela categoria de "pé-duro", que chamava na época em Goiânia a de iniciante. Eu corri somente três provas em 77, a primeira eu fiquei em nono, sétimo e sexto. No segundo ano, já tinha marcha, não muito boa mas tinha, e no terceiro ano já tinha melhorado. Foi quando eu ganhei a primeira corrida, acho que foi em 80, eu já trabalhava na Duas Rodas. Eu tinha uma bicicleta boa, eu sei que eu era da categoria elite nessa época, ganhei com uns 15 minutos e o segundo colocado foi um companheiro meu da equipe que corria pela Peugeot na época. A gente só pega confiança após vencer, eu tinha corrido várias provas. A hora que você vence, aprende a confiar em si. Mas é confiar internamente, não é ganhar por acaso, é ganhar mesmo igual eu ganhei, eu ganhei de ponta a ponta mesmo. E aí começaram as vitórias, tiveram derrotas também, a gente sempre ganha e perde. Às vezes acontece de furo, de tombo, o nível é muito alto e você não está preparado pra aquela prova.

Esporte Ágil - E você levou muito tombo?
Gilmar Elias - Tenho uma camisa lá em casa que eu guardo até hoje, eu tenho todos os meus uniformes de todos os anos que eu usei. E tem uma camisa lá toda costurada, mas tudo mesmo! Hoje, a gente quase não cai, pela experiência que adquiriu no decorrer dos anos. Esses dias eu estava treinando com os meninos, se bem que eu estou parado, mas há uns dois, três anos atrás e por descuido meu também, usei a sapatilha e o taco da sapatilha estava um pouco velho. E fui arrancar de trás do pelotão, estava um bloco grande, quando estava passando pela frente do pelotão o taquinho quebrou e meu pé saiu do pedal. Eu desequilibrei e cai, mais só que a gente tem tanta experiência de tombo que quando eu caí rolando já desci, ali na estrada de Sidrolândia, cai em pé e fui em pé para o meio do mato, pela velocidade que eu estava não dava para parar. Hoje a gente não cai como um abóbora grande, porque quem não tem experiência, cai e se machuca. A gente como tem experiência se projeta na hora do tombo e isso se aprende da mesma forma que acreditar em você mesmo quando você ganha a primeira prova. Porque eu sou um atleta que me dediquei muito, fui por cinco anos campeão consecutivo quando comecei, de 80 a 85. E depois que vim para cá e fui vice- campeão consecutivo de 86 a 94. Isso é uma coisa muito difícil de se manter, o atleta se mantém um, dois anos, mas muitos anos, é difícil, você tem que abdicar de um monte de coisas, de bebidas, de passeios, um monte de coisas, dormir cedo, tem que ser o "atleta". No caso do apoio, toda vida eu trabalhei, a gente teve dificuldades, mas quem trabalha aprende a economizar de tudo quanto é maneira: material de pneu, você usa o pneu de treino e de corrida separados, você anda com ele cheio no tanto certo, você nunca anda com o pneu murcho, sempre engraxadinha a bicicleta. Então, você nunca vacila em deixar a bicicleta estragar por descuido, a não ser por tempo de uso, isso também faz você economizar bastante material, e isso é muito importante para pessoa que não tem condições. Nunca fiquei sem trabalhar até hoje, minha mãe nunca teve condições de dar um apoio para mim, sempre a gente dava para ela, tudo que ganhava dava em casa e o pouquinho que sobrava ia montando a bicicleta na época e assim foi a minha vida. Só o que eu falo: investimento e economia, e aonde a gente chegou foi através do trabalho. A gente precisa de todo mundo, depende de todo mundo, mas nunca deixou de pagar ninguém, isso eu posso falar. Nunca aceitei dinheiro de ninguém e nem quero, não é orgulho, mas acho que você tem que vencer sozinho, senão você se acomoda. Tem que lutar e tem dado certo até hoje, nunca quis depender de ninguém para isso, precisamos de clientes, de amigos, de todo mundo, mas em termos de apadrinhamento, de ficar acomodado, isso não. Temos duas lojas, tudo foi com muito trabalho duro, antes eu trabalhava até 3, 4 horas da manhã todos os dias, porque eu pegava pintura do pessoal de fora. Hoje em dia quase não se pinta bicicleta, por causa do custo da bicicleta que abaixou muito, mas antes pintava muita bicicleta, reformava muito. E antes eu tinha muitos mecânicos, hoje tenho menos e mesmo com muitos eles trabalhavam durante o dia e eu ficava pintando a noite. Todo dia à noite pintava 8, 10 bicicletas para entregar no outro dia. A gente descansa viajando nas corridas, lá em São Paulo fiquei uma semana com o Breno, meu filho, para treina-lo, depois teve outro campeonato dele e fiquei outra semana, o descanso é trabalhando. Quer dizer, fazer o que se gosta, levo meu filho nas competições, hoje eu estou mais no ciclismo por causa do meu filho. Já tive muitas decepções com outros corredores da equipe, coisa de corredor que não sabe ser atleta, de cuidar, de treinar, valorizar o que está recebendo de apoio, porque tudo é caro, às vezes tiramos do lazer para dar esse apoio. Não gosto nem de fazer as contas, mas são 30, 40 mil num ano, mas gasta bastante. Então, eu poderia pegar o dinheiro para comprar um carro ou então passear em outro País. A gente não faz isso, podia investir mais na loja, o que estou fazendo é bom, mas seria melhor se os atletas correspondessem à altura, cuidassem, treinassem, dedicassem, valorizassem e pensassem no futuro deles. Igual ano passado teve uns atletas da equipe que pelo esforço deles, pelo investimento nosso, conseguimos coloca-los na equipe de São. Foi o Raul, Leonedes, Alexandre, Magno e também o meu filho, mas não deu para ele ficar porque tem o estudo, então voltou. Mas ficaram os quatro na equipe do São Caetano, em São Paulo, ganhando salário, casa, comida, bicicleta, material, vitamina, tudo! Só pra fazer o que eles gostam, então conseguimos isso juntos, eles e nós, a loja sendo uma espécie de investimento, o clube, associação e a relação de respaldo a nível nacional que temos e conhecimento com outros corredores, os técnicos brasileiros. E a conquista foi deles também porque os nossos atletas conquistaram a classificação. O Magno foi campeão brasileiro, o Cleomedes foi terceiro, Breno foi campeão brasileiro, o Alexandre trabalhou nas provas, então eles conseguiram. O Raul também foi campeão aqui em MS, trabalhou nas provas de fora, demos o apoio e eles conquistaram espaço. Pedi à Federação Paulista de Ciclismo, o Marcos Mazzaron, ele e eu somos amigos, corremos juntos, mas os atletas não foram chamados pela amizade, mas pelo resultado que obtiveram. E essa foi a melhor equipe que já tive. Esse ano estou com muita dificuldade de manter a equipe porque tem dois atletas de Coxim, três atletas de Ponta Porã, um de Maracajú, uns daqui de Campo Grande e agora que eu estou dando um segurada neles. Tem dois, de Ponta Porã e de Maracajú, morando aqui na loja. Aqui eles treinam, tem uns que recebem apoio e não levam a sério. O de Coxim não está levando a sério, e isso deixa a gente chateado, porque existem gastos, cada pneu que o atleta usa custa em média de R$ 100, um pneu. Um pneu de bicicleta não dura igual pneu de moto, dura muito menos, uma câmara de ar custa R$ 14 reais. Às vezes o cara vai treinar, ele fura a câmara de ar e perde, ele não sabe o custo. Uma corrente dura em média de 6 meses no máximo, dura de 3 a 6 meses, uma corrente custa R$ 90 em média, então é muito caro. No ciclismo, no meio nosso, falamos que é um esporte de ricos praticado por pobres. O ciclismo é isso, a maioria dos corredores é pobre. Só que por exemplo, está tendo a Gilmar Bicicletas que ajuda. Lógico que com apoio da minha esposa também, que se ela não concordasse eu não estaria aqui, ela sempre me apoiou, nunca foi contra eu ajudar o ciclismo e sabe que o que gasto é muito. Eu penso que se estiver fazendo alguma coisa para ajudar os atletas que estão pedalando, é aquela história eu estou ajudando alguém, estou ajudando eles fazerem o que gostam, como eu gostei e gosto. Na época que comecei... É muita adrenalina, é gostar demais do ciclismo só eu que sei. Quando você gosta muito de um esporte, você faz tudo por ele, você sabe do que eu estou falando. E quando eu estou dando as peças para eles, um apoio, bicicletas, é como se eu tivesse me vestindo, eu correndo, eu pedalando, por isso que eu gosto deles, eu quero que eles treinem, que eles se dediquem e se cuidem. Mostro o caminho para eles, sempre lembro o caminho deles, como que tem que ser o treino.

Esporte Ágil - Algum bom exemplo para citar desta sua trajetória como treinador?
Gilmar Elias - Teve um exemplo do Manuel de Dourados, ele está no Japão hoje, tem o Rogério que também está no Japão, vou falar desse exemplo do Manuel. Ele pegou um treinamento comigo, ele não era nem da equipe ele morava em Dourados, ele veio até mim, passei o treinamento para ele, expliquei tudo, ele já estava treinando, mas não sabia como treinar, estava sem rumo. Eu passei um treino para ele e no terceiro mês ele não perdeu mais uma corrida, com três meses de treinamento, estou dando um exemplo que aconteceu comigo. Porque? Ele fez tudo certinho, quer dizer, nosso Estadual não é tão difícil o atleta ganhar, hoje já é um nível bom, quando eu vim para cá eu fui passando, ensinando e daí vão aparecendo resultados, e hoje tem atletas bons, então esse nível que está hoje é bom, não está difícil ganhar. Então, quando o atleta treina e cuida o resultado aparece, é isso que eu cobro deles. Já que vai fazer, que faça bem feito. Não tem que ficar no chove não molha, treina hoje, volta daqui a uma semana, aí não dá resultado. Eu falo para o meu filho Brenno que ele tem que olhar sempre para fora para ter noção, você tem que estar acima dos adversários sempre, observar em São Paulo, Goiás, ele está sempre sabendo que tem que treinar mais, dedicar mais, eu falo que ele tem que estar mais atento, cuidando mais do que os outros. O Brenno tem 17 anos e já está ganhando na elite, porque ele cuida muito, ele tem dois anos de pedal direto, agora ele pediu férias, dei um mês de férias para ele. Na verdade o atleta tem que ter descanso, ele já tinha pedido descanso para mim, porque de agora para frente vem o Estadual, tem agora o de velocidade, no dia 24 de outubro é de resistência. Acho que dia 31 ou 7 de novembro é o Circuito. Depois, tem a Volta da Juventude, que vai ser no Rio de Janeiro de 7 a 14 de novembro, que é uma prova ranqueada nacional, e ele vai correr, inclusive a disputa vai ser transmitida pelo Esporte Espetacular. Depois vem a volta do Estado que é 23 a 28 de novembro e a outra prova nossa à tarde 28 de novembro, a Dom Pedro II. E tem a Copa da República em Brasília dia 10 ou 12 de dezembro. É bom pra ele ir conhecendo, porque depois tem já a Copa América. Os meninos agora estão pegando firme com o Hélio, para poder treinar junto e elevar o nível dele também. O Alexandre também trabalha aqui e faz parte da equipe e tem o Josimar e o Vander de Coxim e o Manuel, o Brunno e o Hélio de Ponta Porã.

Esporte Ágil - Quantos são ao todo na equipe?
Gilmar Elias - O total da equipe é 18, mas na elite estamos com 6 ou 7. Nós temos atletas da categoria elite, juvenil, pré-juvenil, júnior, todas as categorias, só não temos na sub-23 porque eles correm na elite.

Esporte Ágil - E a construção de um velódromo em Campo Grande?
Gilmar Elias - Esse é um sonho, inclusive já até deixei uma planta para o Carlos Alberto da Funcesp, mas isso já faz cinco anos, e ele falou que ia ver se conseguia apoio para a construção. Já passei uma para o Edson, presidente da Federação de Ciclismo, e tem promessa de construção do velódromo. O Magno foi campeão brasileiro agora em junho e o Brenno foi vice-campeão brasileiro. E o Brenno nunca andou em pista e foi convocado para Seleção Brasileira para os jogos Pan-Americanos de 2007 de pista, o Magno também foi convocado, são dois sul-mato-grossenses que estão na Seleção Brasileira para 2007 sem nunca terem treinado em velódromo. Hoje, o Magno mora em São Paulo e está treinando na pista em Caeiras, mas o Brenno está aqui, não treina pista. Ele não tem a técnica de pista, não sabe as normas da pista, imagina você entrar num lugar sem saber as regras, as normas. Tem as manhas, as técnicas de passar para o lado, tem as linhas azuis, vermelhas, preta e dependendo da competição não pode usar determinada linha. Imagine ir para uma competição do nada e ganhar sem saber regras. Se tivéssemos um velódromo em MS tenho certeza que tem muito potencial e iria ter mais gente treinando, como em todo o Brasil, mas tem que ter o velódromo e tem que ter gente para ensinar.

Esporte Ágil - Da família, além do Brenno, tem mais alguém que compete?
Gilmar Elias - O Brunno, o meu filho mais velho, correu, mas agora está parado. Ele correu bicicross, mountain bike e depois o ciclismo. Teve um ano que ele parou e agora ele voltou, está pedalando, ele treina com o irmão mais novo. Está fazendo faculdade quase o dia inteiro e está optando mais pela parte técnica. Eu acredito que depois de formado ele vai montar uma escolinha de ciclismo e de educação física. Hoje, ele já apita no tênis de mesa. E vocês ainda vão ouvir muito sobre ele. E tem o Gilmarzinho, o mais novo, que já está treinando. Ele correu bicicross e agora vai começar no ciclismo.

Esporte Ágil - Quantos anos o Gilmarzinho tem?
Gilmar Elias - Vai fazer agora dia 20 de outubro 11 anos. Ele correu a Copa América de Ciclismo. Ganhou aqui no Estado a Copa Metropolitana. Ele está treinando, mas não está muito sério porque é novo. De vez em quando eu saio para treinar com ele, mais na brincadeira. E o Brenno que é o filho do meio, que está se dedicando. Então são os três e a Divina que sempre me apóia. Ela também já correu, só que agora está parada, de vez em quando ainda ela treina. Mas na família todo mundo gosta de bicicleta. Chega lá em casa só vê bicicleta.

Esporte Ágil - E quais os projetos da equipe para o próximo ano?
Gilmar Elias - Só teria metas a cumprir se tivesse a ajuda do governo. Não tenho ajuda do governo, não tenho ajuda da Prefeitura. A Prefeitura vai ajudar a equipe esse ano com pouco mais de R$ 2 mil para todo o ano e ainda tem o desconto de 20% do imposto. Isso desde o começo do ano deveria ter saído, e veio sair agora em setembro. Uma viagem da equipe custa R$ 2 mil. Então, tem "apoio", a gente coloca nos uniformes, porque não dá para fazer um só para o Brenno porque fica muito caro e por isso fazemos para todos com apoio FAE e FIE. Se continuar desta forma, parece que quando eles vêem que a gente está tirando do bolso eles ficam acomodados, no ano que vem não tenho intenção de continuar com a equipe. O Brenno recebe apoio do Jovem Talento, R$ 700 por mês do FIE, e é um dinheiro dele. Ele compra um capacete bom para ele, compra sapatilha, investe em materiais. Agora se eu entrar com um projeto no governo ou na Prefeitura, e eles derem um respaldo, eu vou continuar com a equipe. Caso contrário, se eu continuar com o clube vai ser só para efeito de filiação, daí vou dar o uniforme, mas não vou dar a bicicleta por exemplo. E, os meninos que hoje estão na equipe, vou pegar as bicicletas de volta, que foi emprestada para eles treinarem. Infelizmente, vai ser assim. Estou com 18 anos em Campo Grande, 15 anos ajudando mesmo a equipe, desde essa época venho formando atletas, nem sei quantos passaram pelo clube. Eu já dei uma parcela muito grande para o ciclismo, e às vezes isso não é reconhecido. Mas em termos de equipe, se for para eu continuar, só vou continuar se tiver um apoio.

Esporte Ágil - E qual é o ritmo de treino do Brenno?
Gilmar Elias - Como vai ter a prova de resistência e um contra-relógio, então estamos mesclando dois tipos de treinos. É um contra-relógio num dia e no outro o de resistência. Dá o descanso do contra-relógio, estrada vai só usar poucas marchas, cada local usa a marcha ideal. Sempre manter o peso da perna, nada de desgastar, só pegar resistência. Como ele é júnior, está fazendo três horas, três horas e meia. No contra-relógio eles fazem 21 km. É muito duro de acompanhar e ver, é doído. Deve dar uma duas horas de pedal, vai e volta pedalando. O Hélio, o Alexandre e os outros que são da elite eu já vou começar a aumentar o treino deles, porque terão que treinar uma média de seis, sete horas, porque a prova deles vai ser de 180 km. Para a categoria júnior a prova de resistência vai ser dia 24 de outubro e tem 120 km de percurso. E, por isso, o Brenno e o Ben Hur que mora aqui não precisam treinar mais que três horas e meia.

Esporte Ágil - E qual a média de horário que eles fazem esse percurso.
Gilmar Elias - Aqui no Estado a média não é alta porque tem poucos corredores. Então, ficam se escondendo no vácuo, poupando o gás, e acaba não dando uma média alta. Na última prova para Rochedo foram 100 km, deu uma média de 37 km/hora. Em alguns lugares se anda a 70 km/h, mas em outros de subida ou vento contra vai a 25 km/hora. Se tivesse 60 corredores na elite daria uma média alta, porque um puxa, o outro puxa, outro tenta a fuga, outro sustenta a fuga, escapa... Em São Paulo dá uma média alta, em 100 km por exemplo, dá média de 45 a 48 km/h, mas tudo varia conforme o terreno também. A média da Volta da França é de 41 km/h, mas lá é muita subida e se eles viessem correr aqui no Estado, daria uma média de 50 km/h.

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