Bate-Bola | Da redação | 10/09/2018 15h34

“Segurei o boxe aqui no Estado por mais de 10 anos”, afirma Tião

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Hoje, aos 53 anos, o professor Tião, da tradicional Academia Primeiro Round, está de volta às competições.

“Campograndense [sic] ganha um título no boxe paulista”. A manchete de um dos principais jornais diários de Campo Grande nos anos 1980 destacava a primeira grande conquista daquele que, nas décadas seguintes, seria apontado como um dos principais nomes do boxe em Mato Grosso do Sul.

Aos 22 anos, o até então desconhecido Sebastião Aparecido Ribeiro conseguiu uma façanha: aos trancos e barrancos, praticamente sem apoio algum, foi campeão da Forja dos Campeões de São Paulo ao vencer, por pontos, o paulista Sidnei Guedes. Era dada a largada para uma das mais bem sucedidas carreiras do pugilismo pantaneiro.

Hoje, aos 53 anos, o professor Tião, da tradicional Academia Primeiro Round, está de volta às competições após um longo hiato. Ele prepara a colombiana Kariny Hernandes para seu primeiro desafio: vai enfrentar, no dia 15 de setembro, a jovem Emilly Laura Vieira dos Santos, da Equipe Pugillus. A luta será uma das preliminares que acontecem durante a disputa do título brasileiro do CNB (Conselho Nacional de Boxe), no Rádio Clube Campo, em Campo Grande, evento que contará com a presença do tetracampeão mundial Acelino "Popó" Freitas.

“Ela tem um potencial muito grande, é dedicada, mora na academia e está treinando bem. Estamos fazendo o possível para que ela se saia muito bem. Como lá [na Colômbia] a família não tem condições, estamos dando apoio para ela realizar esse sonho. É uma pessoa que merece. Ela quer permanecer por aqui”, afirmou o técnico.

Em entrevista ao Esporte Ágil, Tião fala sobre sua carreira, principais títulos e sobre a jovem aposta que se prepara para estrear nos ringues no dia 15 de setembro.

Como conheceu o boxe?
Conheci o boxe assistindo as grandes lutas de antigamente, nacionais e internacionais. As internacionais, sempre esperávamos até tarde, muitas vezes, e ela acabava já no primeiro minuto. No Brasil, seriam lutas de Eder Jofre, Maguila, Tomás da Cruz, Claudemir Carvalho, e, por último o Acelino Popó Freitas.

Praticou alguma modalidade antes?
Antes, pratiquei taekwondo, tive um bom exemplo nessa modalidade. Fiz muito tempo. Depois, não era o que queria e passei a jogar futebol e tive que parar por conta dos estudos. Depois, me adaptei com o boxe. A distância da minha casa era longe, mas comecei mesmo assim. Meu técnico disse que eu tinha potencial e me perguntou se eu queria participar de campeonatos. Eu não estava afim, queria fazer apenas por autodefesa, mas aceitei fazer.

Como foram seus primeiros campeonatos?
Depois de muito tempo treinando, o técnico Rubens Ramos disse que estava na hora de eu começar competir. Eu não sabia meu potencial, mas ele sabia. Disse para eu ter certeza disso. Na minha primeira luta, nocauteei o adversário, logo de cara. Logo depois, participei de um Metropolitano e Estadual, fui campeão, no Centro Oeste também. Antes do Forja Paulista de Campeões, treinei seis meses, sem apoio algum, às vezes até sem me alimentar. Comecei vender as minhas coisas para custear as despesas.

E como foi essa experiência? Foi difícil?
Era toda terça-feira, e tinha que pagar hotel e alimentação. Fiquei três etapas lá. Nas oitavas de final, já não tinha mais dinheiro. Voltei para Campo Grande, voltei a treinar e comecei vender as coisas de dentro de casa, pois não tinha como trabalhar, por conta dos treinos. Fui até na TV fazendo um apelo. Foi quando um político ligou na academia e falou que me daria passagem, hotel e alimentação. Isso me deu muita força para eu ir e alcançar o objetivo.

E você acabou campeão do torneio...
Passei pelas oitavas, pelas quartas, pela semifinal e me sagrei campeão da Forja Paulista de 1987 entre 600 atletas revelação do boxe paulista.

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E depois, como seguiu sua carreira? Você montou a academia e revelou muitos talentos para o boxe.

Depois de um tempo, com idade avançada, larguei do boxe por falta de apoio. Mas ainda fiz algumas grandes lutas, participei de brasileiros sem apoio e sem bolsa alguma. Aí que consegui montar minha academia para dar segmento na carreira e fiz alguns campeões brasileiros. Formei a Ingrid, o Willian Santos, que também participou de vários brasileiros e foi mais de dez vezes campeão estadual. Formei o Caiubi Ajala, campeão brasileiro, o Suélen Regina, também campeã brasileira, Emilia Reis, vice no Brasileiro, Wallace, bronze no Brasileiro. Exemplos não faltam. Na Copa PH de Boxe Estreantes, a equipe Primeiro Round teve mais de 12 títulos.

Por que você se afastou do boxe de competição?
Parei com o boxe por conta dos custos. Não tinha como continuar com a categoria de base, de competição, por falta de apoio. Tem que ter luva, coquilha, capacete, e como a academia estava em baixa, não tinha como custear os atletas de competição. Então eu tinha 15 alunos de competição, que não pagam, e faltava espaço para os atletas que pagavam. Depois, a modalidade começou a ser mais valorizada, então começaram a ter bolsa nacional e estadual. Assim, as coisas começaram a melhorar.

E por que resolveu voltar?
Estava muito afastado, mas segurei o boxe aqui no Estado por mais de 10 anos com muita dificuldade. Dei a volta por cima e continuei na modalidade. Hoje, a categoria de base está muito bem representada. A Federação tem feito um bom trabalho, muitos eventos.

Quais nomes você pode destacar no boxe sul-mato-grossense?
Hoje, o principal nome do boxe do MS é o Luis Cláudio, que dia 15 vai defender o título brasileiro no profissional. No amador, tem o Paulo Brito Martins, que nasceu dentro da minha academia, filho do Paulão. Hoje, ele é um dos melhores boxeadores de Mato Grosso do Sul. Creio que será o próximo a se destacar aqui dentro do Estado.

Como é o boxe executivo oferecido na academia?
O executivo serve para as pessoas que querem fazer uma atividade para ganhar flexibilidade, agilidade, reflexo, condicionamento, emagrecer, etc, além de aprender uma autodefesa. O boxe de competição já é mais competitivo. O treinamento é diferente. Você trabalha de três a quatro horas por dia, enquanto no executivo é uma hora e meia. No executivo, o contato é com aparador e saco de pancada. E, no de competição, outros equipamentos, fora o sparring.

Como está o incentivo ao boxe hoje no Estado?
Não posso falar bem como está o incentivo. Estou retornando agora graças a essa aluna que veio me pedir um apoio, que veio da Colômbia. Ela tem um potencial muito grande, é dedicada, mora na academia e está treinando bem. Estamos fazendo o possível para que ela se saia muito bem. Como lá [na Colômbia] a família não tem condições, estamos dando apoio para ela realizar esse sonho. É uma pessoa que merece. Ela quer permanecer por aqui . Ela que me incentiva a voltar na área do pugilismo. Hoje em dia, é muito complicado fazer um evento de boxe. O incentivo para as academias nunca teve, como capacete, coquilha, par de luvas. Isso nunca tivemos.

Quais as diferenças técnicas entre o boxe olímpico e o boxe profissional?
O boxe olímpico tem as regras: capacete, três minutos de combate por um de descanso, etc. No boxe profissional, os rounds são de 6, 8 e 10, ou 12 rounds quando é disputa de título mundial. Não se usa capacete ou camiseta.

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