Bate-Bola | Da Redação | 09/07/2005 13h19

Ananias faz um balanço geral da atual situação do Operário e do futebol em MS

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Bate-Bola com Ananias, presidente do Operário

Há um ano e seis meses, Ananias assumiu a presidência do Operário. Uma tarefa nada fácil devido às más condições em que o time sul-mato-grossense se encontra. Dívidas, credores e uma torcida totalmente desacreditada. Um novo trabalho, com novos investimentos, está sendo realizado para que se possa alavancar a carreira do Galo e fazer com que ele volte a trazer bons resultados.

Ananias nunca jogou futebol, apenas fez parte da torcida operariana. Paralelo a isso, ele é sub secretário de Estado de integração com a Capital, já foi presidente do Banco do Povo e da Fundação do Trabalho.

Ele nos fala sobre a atual situação do Operário, dos objetivos do time e dos recursos que utilizarão para buscar um crescimento. Faz também, um balanço geral da real situação do futebol em Mato Grosso do Sul.


Esporte Ágil - Como se tornou presidente do Operário? O que te motivou a assumir uma equipe com tantos problemas?

Ananias - Eu nunca havia sido dirigente de futebol, mas sempre fui operariano, de freqüentar os estádios. Há algum tempo atrás, eu ainda era presidente da Fundação do Trabalho, participei do Encontro Nacional dos Secretários do Trabalho, realizado aqui em Campo Grande. Esteve aqui o João Leite, antigo goleiro da seleção brasileira e atual secretário do trabalho de Minas Gerais. Ele me disse que gostaria de visitar a sede do Operário e comprar uma camiseta do time. Eu fiquei sem resposta, tive que dizer a ele que a sede estava praticamente abandonada e os bens do time estavam indo a leilão. Ele se mostrou surpreso e disse que quando vinha jogar aqui, pelo Atlético Mineiro, a torcida do Operário era enorme e marcava presença, lotando os estádios, brigando e xingando os times adversários. Ele disse não acreditar que aquilo tudo morreu. Um tempo depois, eu acompanhei uma matéria publicada na TV, dizendo que o Operário se encontrava praticamente sem time, com muitas dívidas e que o presidente estava detido e o cargo estava vago. Então, algumas pessoas me convidaram e eu resolvi aceitar. Até porque, pior do que estava, não poderia ficar.   

Esporte Ágil - O Operário investiu cerca de R$ 400.000 para a disputa do Brasileirão da série C. No que foi investido este dinheiro?

Ananias - Na verdade, são planos de investimentos apresentados por uma empresa que estamos fazendo parceria. Ainda não foi efetivado.

Esporte Ágil - E no que vocês pretendem investir este dinheiro?

Ananias - Na contratação de jogadores, baseado em uma folha de pagamento em torno de R$ 60.000 por mês, no período de cinco ou seis meses, além de outras despesas. Basicamente, no custeio e folha de pagamento. 
 
Esporte Ágil - Você acha que este valor é suficiente?

Ananias - Sem dúvida nenhuma. 

Esporte Ágil - No momento, o Galo recebe algum tipo de patrocínio? Alguma entidade colaborou neste investimento?

Ananias - Quando nós assumimos o Operário, ele poderia ser considerado algo mais virtual do que real. Era apenas um nome na cabeça das pessoas. Na realidade, estava sem jogadores e equipe de base, não existia mais nada. Desde 1999, o Operário não apresenta balanço na Junta Comercial. Desde que assumi, estamos tendo o trabalho de regularizar a documentação do time junto a Caixa Econômica e a Receita Federal, além do CNPJ, que está em apto. Não podemos realizar convênio com o nome do Operário. Quando entramos, não teve alguém que nos passasse a situação real do time, seus créditos, débitos, número de troféus, chuteiras ou jogadores. Eu brinco que se conseguirmos levar o Operário ao zero já estamos satisfeitos, porque nem no zero nós recebemos e sim, menos 10, menos 15. Depois de muito tempo, conseguimos um patrocínio simbólico com a Rede São Bento. Essa volta do patrocinador representa muito mais no ponto de vista do nome do que no ponto de vista financeiro. Nosso futebol está tão desacreditado, que ninguém quer associar sua marca a ele, prefere financiar outros esportes. Estamos querendo acabar com este descrédito. Há 10 anos, o Operário não tinha patrocinador. Foi por isso, que buscamos uma parceria com um grupo de investidores através de uma co-gestão.

Esporte Ágil - O que vocês esperam como resultado da co-gestão formada ente o Operário e a Newsportes?

Ananias - Eles buscarão recursos no mercado para aplicar no Operário. Além de fortalecer nossa gestão, buscando alguém que viva do futebol para administrar corretamente. Eu não vivo do esporte, é complicado ser secretário do Estado e presidente do Operário ao mesmo tempo. O ideal é ter alguém que viva o dia-a-dia do futebol.

Esporte Ágil - Já está certa a vinda de jogadores de fora para compor o time?

Ananias - Sim. Cinco novos jogadores do Rio de Janeiro. Não temos nenhum medalhão, mas são jogadores muito bem conceituados no mercado. Trouxemos para este Estadual, seis jogadores que realizaram excelente trabalho. Desde 1996, o Operário não chegava em 2º lugar. Ano passado, conseguimos chegar em 3º e este ano, em 2º. Sem dúvida nenhuma, ano que vem vai ser o ano do Operário. Quando assumimos, fizemos um planejamento para dois anos no mínimo, não se monta uma equipe de uma hora para outra. O descrédito do time era muito grande, o time estava fora das competições Nacionais. Em âmbito Estadual, estava chegando em 5º,  6º lugar.

Esporte Ágil - A quais motivos você atribui esta desestabilidade encontrada no Operário?

Ananias - Acredito que Gestões infrutíferas. Hoje o futebol exige mais profissionalidade do que antigamente. Ainda tratam o futebol como um hobby aqui no Estado e o mercado tem exigido muito mais. Nestes anos, buscamos alguém para ser a nova "atração" do Operário e um técnico para formar um trabalho de base. Montamos uma equipe extremamente jovem, com uma média de 20 anos, e queremos mantê-la por dois ou três anos, para que esses jogadores possam se destacar e até serem vendidos, assim, o clube se capitalizaria. As pessoas que administraram antes, não se atentaram aos novos conceitos do futebol. É necessário recolher todos os impostos, há necessidade de um planejamento para que o investidor possa chegar. Antigamente haviam poucos investidores, o futebol se pagava com a renda dos estádios, hoje não se paga mais. Faltou percepção a este novo processo, que exige profissionalismo e investimento. Foi por isso, que buscamos esta nova parceria.


Esporte Ágil - Quais jogadores se destacam no momento dentro do time?

Ananias - A revelação do campeonato passado foi o lateral direito aqui do Estado, o Jordani. Tem também o Cuiabá, um rapaz do meio que eu acho fenomenal. O Rafael Matos, o Dentinho e o Serginho também são muito bons. Existem vários talentos.

Esporte Ágil - Estas mudanças estão sendo realizadas especialmente para o Campeonato Brasileiro ou vocês pretendem mantê-las?

Ananias - Nosso projeto não é de imediato e por isso, a torcida não deve cobrar de imediato. Pretendemos lançar um bom time para a série C e estamos reforçando o time do Campeonato Estadual. Este time é nossa base e é daí que queremos partir, para dar furto daqui um ou dois anos. Não prometemos que vamos ser campeões da Série C, mas pro ano que vem, já temos uma boa base para Copa Estadual e Copa do Brasil.

Esporte Ágil - Com estas mudanças, você acredita que a equipe vai alavancar e trazer bons resultados?

Ananias - Sem dúvida. Não vamos fazer loucuras, talvez este processo em que vivemos hoje se deu graças a algumas loucuras anteriores, como ações trabalhistas, dívidas. Não queremos mais este tipo de problema e é por isso que vamos continuar "devagar e sempre".

Esporte Ágil - Como estão os preparativos para a estréia no Campeonato Brasileiro?

Ananias - Estamos treinando no Poliesportivo. Ainda faltam alguns acertos, atletas que ainda vão chegar. Temos ainda problemas financeiros para acertar. Estamos tentando dividir em duas linhas, uma recuperando problemas passados do ponto de vista legal, tributário, fiscal e trabalhista, a outra, paralela a essa, é montar um time. É claro que um processo acaba interferindo na outro. Por exemplo, toda renda do Operário é seqüestrada pela Justiça do Trabalho, isso atinge o outro processo, pois interfere em credores e no pagamento dos salários atuais. Estamos tentando administrar isto.


Esporte Ágil - De maneira geral, como você vê a atual situação do futebol aqui no Estado?

Ananias - Temos bons jogadores, todo instante tem olheiros de fora buscando jogadores novos aqui no Estado. O problema, é que esses jogadores não vão preparados adequadamente, já que Mato Grosso do Sul ainda vive abaixo da linha nacional do ponto de vista técnico. Hoje o investidor prefere apostar num futebol society ou em corrida de motocross, do que no futebol. Eles mereciam ter um nível melhor e, para isso, nós temos que fazer uma conferência no futebol, começar do zero e estabelecer novos pactos entre a Federação e outros órgãos esportivos. Nós não temos um calendário esportivo, acontece um campeonato a cada três meses. Não temos nada para o segundo semestre. Ou os jogadores vão embora, ou abandonam a carreira. Muitos meninos de 18 e 19 anos deixam de jogar, pois não conseguem sobreviver com um contrato de três ou quatro meses. Além do que, sem um calendário preenchido, fica muito difícil atrair investidores. Eles não vão investir em curto prazo, patrocinar três meses não traz resultado. É necessária uma repactuação desde o bandeirinha lá da periferia, até o torcedor mais fanático. 

Esporte Ágil - Como você analisa o trabalho realizado pela Federação?

Ananias - A Federação deveria zerar o jogo, ver o que está errado e se repactuar. O futebol aqui mais parece um encontro e acordo de amigos que acham que está tudo bem, tudo legal e não está. O futebol tem que ser entendido como uma cadeia produtiva, que vem desde o pipoqueiro, do merendeiro, dos ônibus, das camisas vendidas, da torcida e até, do turismo gerado. Se não, as pessoas vão se afastando e as coisas vão piorando cada vez mais.

Esporte Ágil - O que você acha da cobertura jornalística aqui no Estado?

Ananias - Não temos do que reclamar da cobertura jornalística feita neste ano. Foi um pouco passional por alguns jornalistas, mais a média foi boa. Acreditamos que poderia ser melhor se houvesse um calendário com uma grade de programação em que a própria imprensa opinasse nos horários dos jogos, para que as coberturas se tornem viáveis e os jogos possam ser transmitidos ao vivo. 

 

 

 


 

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